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Tela Tomazeli l Editora

Um pensamento ilusório

(Lc 13,1-9)

3º Domingo da Quaresma

            Certos cristãos iludem-se, quando pensam que a conversão é necessária para os outros, ao passo que eles mesmos se julgam dispensados dela. Uma forma de miopia espiritual está na raiz desta maneira de pensar. Com muita facilidade, estas pessoas comparam-se com as outras, descobrindo nelas defeitos e pecados. Por isso, há quem viva como se carregasse, gravados na fronte, os estigmas das próprias faltas. Sempre que se fala em urgência de conversão, já se sabe em quem pensar. É como se, ao apontar a necessidade da conversão alheia, nós mesmos estivéssemos dispensados de nos converter.

            Jesus combateu tal mentalidade. É arriscado pensar que os outros são mais pecadores do que nós mesmos e, assim, em nossas limitações. Esta acomodação pode ser fatal. A pessoa não cairá na conta de que deve produzir os frutos esperados pelo Senhor, tornando sua vida totalmente estéril. Quando o Senhor vier, o que acontecerá? A sorte desta pessoa será como a de uma figueira infrutífera: apesar dos esforços do chacareiro, deverá ser abatida.

            A prudência recomenda-se a deixar de lado os pensamentos ilusórios a respeito da conversão, e a decidir-nos, resolutamente, a voltar, cada dia, para Deus. Não aconteça que, iludindo-nos, venhamos a ser punidos por nossos pecados.

Vida estéril

            O risco mais grave que nos ameaça a todos é acabar vivendo uma vida estéril. Vamos reduzindo a vida ao que nos parece importante: ganhar dinheiro, não ter problemas, comprar coisas, saber divertir-nos. Passados alguns anos, podemos nos encontrar vivendo sem outro horizonte e sem outro projeto. Por outro lado, aos poucos vamos substituindo os valores que poderiam alentar nossa vida por pequenos interesses que nos ajudam a “ir levando”. A verdade é que nos contentamos com “sobreviver” sem maiores aspirações, pois o que importa para nós é “sentir-nos bem”.

            É preciso dar-nos conta que estamos nos instalando numa cultura que os entendidos chamam de “cultura da intrascendência”, ou seja, confundimos o valioso com o útil, o bom com o que nos apetece, a felicidade com o bem-estar. Sabemos que isso não é tudo, mas procuramos convencer-nos de que nos basta.

            Vive-se de maneira estéril e isso na prática significa não entrar no processo criador de Deus, permanecer como espectadores passivos, não entender o que é o mistério da vida, negar em nós o que nos torna semelhantes ao criador: o amor criativo e a entrega generosa. Jesus compara a vida estéril de uma pessoa a uma “figueira que não produz fruto”. Para que há de ocupar um terreno inutilmente? A pergunta de Jesus é inquietante.

Não basta criticar

            Não basta criticar. Não basta indignar-se e deplorar os males, atribuindo sempre a outros a responsabilidade. Ninguém pode situar-se numa “zona neutra” de inocência. De muitas maneiras, todos nós somos culpados. E é necessário que todos nós reconheçamos nossa própria responsabilidade nos conflitos e na injustiça que afeta a sociedade.

            Sem dúvida, a crítica é necessária se quisermos construir uma convivência mais humana. Mas a crítica se transforma em verdadeiro engano quando acaba sendo um tranquilizante cômodo que nos impede de descobrir nosso próprio envolvimento nas injustiças.

            Jesus nos convida a não viver denunciando culpabilidades alheias. Uma atitude de conversão exige a coragem de reconhecer com sinceridade nosso pecado para comprometer-nos na renovação da própria vida. A tarefa é de todos. Precisamos caminhar para uma sociedade assentada sobre alicerces novos. É urgente uma mudança de direção. É preciso abandonar pressupostos que estivemos considerando válidos e intangíveis e dar à nossa convivência uma nova orientação.

            Precisamos aprender a viver de maneira diferente, não de acordo com as regras do jogo que impusemos em nossa sociedade egoísta, mas de acordo com valores novos, ouvindo as aspirações mais profundas do ser humano. A partir do beco sem saída a que chegou a sociedade do bem-estar, precisamos ouvir o grito de alerta de Jesus: “Se não vos converterdes, todos nós morrereis”.

            Salvar-nos-emos se chegarmos a ser não mais poderosos, e sim mais solidários. Cresceremos não sendo cada vez maiores, e sim estando cada vez mais próximos dos pequenos. Seremos felizes não tendo cada vez mais, e sim compartilhando cada vez melhor.

            Não nos salvaremos se continuarmos gritando cada um suas próprias reinvindicações e esquecendo as necessidades dos outros. Não seremos mais sensatos se não aprendermos a viver mais em desacordo com o sistema de vida utilitarista, hedonista e insolidária que organizamos para nós. Precisamos atrever-nos a ouvir mais fielmente o Evangelho de Jesus.

Façamos nossa oração:

Espírito de conversão, que nós não nos iludamos, dispensando-nos de voltar, cada dia, confiantes, para o Pai. Amém.

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