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Tela Tomazeli l Editora

O rosto humano de Deus

(Jo 1,1-18)

Solenidade do Santo Natal

            O quarto evangelho começa com um prólogo muito especial. É uma espécie de hino que, desde os primeiro séculos, ajudou decisivamente os cristãos a aprofundar-se no mistério encerrado em Jesus. “A Palavra de Deus se fez carne”. Deus não é mudo. Não permaneceu calado, encerrado para sempre em seu Mistério. Deus quis comunicar-se conosco. Quis falar-nos seu amor, explicar-nos seu projeto. Jesus é simplesmente o Projeto de Deus feito carne.

            Mas, Deus não se comunicou conosco por meio de conceitos e doutrinas sublimes que só os sábios podem entender. Sua palavra encarnou-se na vida entranhável de Jesus, para que até os simples possam entendê-lo, os que se comovem diante da bondade, do amor e da verdade que se encerra em sua vida. Esta Palavra de Deus “habitou entre nós”. Para encontrar com Ele não precisamos sair do mundo, mas aproximar-nos de Jesus. Desapareceram as distâncias. Deus se fez carne e habita entre nós. Para conhecê-lo não temos que estudar teologia, mas sintonizar com Jesus, comungar com Ele.

            “Ninguém jamais viu Deus”. Não devemos esquecer que só Jesus nos contou como é Deus. Só Ele é a fonte para nos aproximar de seu mistério. Como muda tudo quando captamos enfim que Jesus é o rosto humano de Deus. Tudo se torna mais simples e mais claro. Agora sabemos como Deus olha quando sofremos como nos busca quando nos perdemos, como nos entende e perdoa quando o negamos. Nele nos é revelada “a graça e a verdade” de Deus.

Recuperar a Jesus

            Nos crentes temos muitas imagens de Deus desde criança e vamos aos poucos fazendo nossa própria ideia dele, condicionados pelo que vamos ouvindo de catequistas e pregadores, em casa e/ou no colégio, ou que vivemos nas celebrações e atos religiosos.

            Todas as imagens que fazemos de Deus são imperfeitas e deficientes. Temos que purificá-las sempre de novo ao longo de nossa vida. Não devemos esquecer isso nunca. O Evangelho de João nos lembra de maneira categórica uma convicção que atravessa toda a tradição bíblica: “Ninguém jamais viu a Deus”. Então como purificar nossas imagens para não desfigurar seu mistério santo? O próprio Evangelho de João nos lembra da convicção que sustenta toda a fé cristã em Deus. Só Jesus, o Filho de Deus é “quem no-lo deu a conhecer”. Em nenhum lugar Deus nos descobre seu coração e nos mostra seu rosto como em Jesus.

            Deus nos disse como Ele é encarnando-se em Jesus. Para encontrar Deus temos de aproximar-nos desse homem no qual Ele vem ao nosso encontro. Não basta confessar Jesus Cristo teoricamente. Precisamos conhecê-lo a partir de uma aproximação mais concreta e vital aos evangelhos, sintonizar com seu projeto, deixar-nos animar por seu Espírito, entrar em sua relação com o Pai, segui-lo de perto dia a dia. Esta é a tarefa apaixonante de uma comunidade que vive hoje purificando sua fé. Quem conhece e segue a Jesus vai desfrutando cada vez mais da bondade insondável de Deus.

Deus entre nós

            Uma das contradições dos cristãos é confessar com entusiasmo a encarnação de Deus e esquecer depois que Cristo está no meio de nós. Deus desceu ao mais profundo de nossa existência, e a vida continua parecendo-nos vazia. Deus veio habitar no coração humano e sentimos um vazio interior insuportável. Deus veio reinar entre nós e parece estar totalmente ausente em nossas relações. Deus assumiu no nossa carne e continuamos sem saber viver dignamente o carnal.

            Também entre nós se cumprem as palavras de João: “Veio aos seus e os seus não o receberam”. E, no entanto, é possível abrir os olhos e contemplar o Filho de Deus “cheio de graça e de verdade”. Quem crê, sempre vê algo. Vê a vida envolta em graça e em verdade. Tem em seus olhos uma luz para descobrir, no fundo da existência, a verdade e a graça desse Deus que plenifica tudo.

            Sem uma abertura interior a Deus não há fé viva. Só começamos a ouvir a voz de Deus quando ouvimos até o fundo nossa verdade. Deus atua em nós quando o deixamos ativar o melhor que há em nosso ser. Ele toma corpo em nossa vida na medida em que o acolhemos. Sua presença via se configurando em cada um de nós, adaptando-se ao que o deixamos ser. É bom frisar que o humano e o divino não são realidades que se excluem mutuamente. Não temos que deixar de ser humanos para sermos de Deus. O humano é a “porta” que nos permite “entrar” no divino.

            Portanto, as experiências mais intensas de comunicação, de amor humano, de dor purificadora, de beleza ou de verdade são o canal que melhor nos abre à experiência de Deus. Em Cristo podemos aprender a viver uma vida tão humana, tão verdadeira, tão profunda que, apesar de nossos erros e mediocridade, pode levar-nos para Deus. Mas é preciso ouvir com atenção a advertência do evangelista. A Palavra de Deus, “veio ao mundo”, e o mundo “não a conheceu”, “veio para o que era seu” e “os seus não a receberam”. Talvez nosso pecado seja viver sem acolher a luz.

Façamos nossa oração:

Querido Pai do céu. Agradecemos-te hoje nessa solenidade da inserção de teu Filho junto a nós e revelando o quanto Tu nos ama. Talvez tenhamos que pedir perdão, por muitas vezes, envaidecidos em nossa soberba não reconhecer teu gesto de amor para conosco. Por outro, obrigado por nos ter enviado teu Filho Jesus para nos indicar o caminho para um dia chegarmos a Ti. Amém.

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