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Tela Tomazeli l Editora

O servidor de todos

(Mc 9,30-37)

25º Domingo do Tempo Comum

            O testemunho de vida de Jesus, baseado na humildade e no espírito de serviço, não foi suficiente para conscientizar os discípulos a respeito do modo de proceder que lhes estava sendo proposto. Nem mesmo a alusão à sua morte violenta e à sua ressurreição bastou para abrir-lhes os olhos. Entre eles, permanecia um espírito mesquinho de competição. Sua preocupação era saber qual deles seria o maior.

            Jesus enunciou, com clareza, uma norma de conduta válida para regular as relações entre eles: quem quisesse ser considerado o primeiro e mais importante de todos, deveria ser capaz de se colocar no último lugar e assumir a condição de servo dos demais. O colocar-se em último lugar deveria resultar de um ato livre, sem nenhum complexo de inferioridade. O fazer-se servidor seria a consequência da superação do próprio egoísmo, não uma atitude resignada de quem não sabe fazer valer seus direitos. Quebra-se, assim, o ciclo da ambição e fica banida do seio da comunidade a tentação da tirania. O Reino, portanto, tem uma escala de valores que não corresponde àquela do mundo.

            A orientação de Jesus exigiu dos discípulos uma reformulação de seus esquemas mentais. Não dava para aplicar ao Reino a visão mundana com que estavam contaminados.

Sobre o que discutimos pelo caminho?

            De acordo com o relato de Marcos, Jesus insiste por três vezes a caminho de Jerusalém sobre o destino que o espera. Sua entrega ao projeto de Deus não terminaria no êxito triunfal que seus discípulos imaginavam. Entretanto, no final haveria “ressurreição”, mas, embora parecesse incrível, Jesus “seria crucificado”. Ora, seus seguidores precisavam saber disso. No entanto, os discípulos não entendiam a Jesus. Tinham medo até de perguntar-lhe. Em contrapartida continuavam pensando que Jesus lhes traria glória, poder e honra. Não pensavam em outra coisa. Ao chegar à sua casa de Cafarnaum, Jesus lhes faz uma única pergunta: Sobre o que discutíeis pelo caminho?

            Sobre o que falaram pelas costas, nessa conversa em que Jesus esteve ausente? Os discípulos, então, guardam silêncio. Sentiam vergonha de dizer-lhe a verdade. Enquanto Jesus lhes fala de entrega à fidelidade, eles estavam pensando em quem deles era o mais importante. Não acreditavam na igualdade fraterna que Jesus proponha. Na realidade, o que os movia era a ambição e a vaidade em serem superiores uns dos outros.

            De costas para Jesus e sem que seu Espírito esteja presente, será que não continuamos discutindo sobre coisas parecidas? Será que não seja necessário à Igreja renunciar a privilégios multisseculares ou de ver buscar “poder social”? Diante do silêncio de seus discípulos, Jesus senta-se e os chama. Ele tem grande interesse em ser ouvido. O que ele vai dizer não deve ser esquecido: “Quem quiser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos”.

            Em seu movimento não se devia olhar tanto para os que ocupavam os primeiros lugares e renome, títulos e honras, pois o importantes são os que, sem pensar muito em seu prestígio ou reputação pessoal, se dedicam, sem ambições e com total liberdade, a servir, colaborar e contribuir para o projeto de Jesus. Não devemos esquecer isso: o importante não é ficar bem, mas fazer o bem seguindo a Jesus.

Duas atitudes muito típicas de Jesus

            Perceba caro leitor! Jesus tentava gravar no coração dos discípulos que seu caminho não era um caminho de glória, êxito e poder. Jesus lhes fala de entrega e de cruz, no entanto, eles falavam de suas ambições: Quem será o mais importante no grupo? Quem ocupará o posto mais elevado? Quem receberá mais honras? Jesus senta e chama os doze e os convida a se aproximarem, porque os vê muito distanciados. Para seguir seus passos duas atitudes eram necessárias.

  1. Quem quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e o servo de todos. Devem, portanto, renunciar a ambições, dignidades e honras e vaidades.
  2. Jesus a ilustra com um gesto simbólico afetuoso. Coloca uma criança no meio dos doze, no centro do grupo, para que aqueles homens ambiciosos se esqueçam de honras e grandezas e fixem seus olhos nos pequenos, nos fracos, nos mais necessitados de defesa e cuidado.

Depois dessas palavras, Jesus abraça uma criança e lhes diz: “Quem acolhe uma criança como esta em meu nome, é a mim que acolhe”. Quem acolhe um “pequeno” está acolhendo o “grande”, o maior, Jesus. E quem acolhe Jesus está acolhendo o Pai que o enviou. Uma Igreja que acolhe os pequenos e indefesos está ensinando a acolher a Deus. Uma Igreja que olha para os grandes e se associa aos poderosos da terra está pervertendo a Boa Notícia de Deus anunciado por Jesus.

Acolher a criança em nome de Jesus

                        As primeiras vítimas da deterioração e dos erros de uma sociedade são quase sempre os mais fracos e desamparados, especialmente as crianças. A crise da família e a instabilidade do casal, hoje, estão provocando em alguns filhos efeitos difíceis de medir em toda a sua profundidade. Crianças mal amadas, privadas do carinho e da atenção de seus pais, de olhar apagado e ânimo abalado, que se defendem como podem da dureza da vida sem saber onde encontrar refúgio seguro.

                        E os educadores? Seu trabalho não é fácil. Na verdade, são peças de um sistema de ensino que, de modo geral, fomenta mais a transmissão de dados do que o acompanhamento humano, e correm o risco de transformar-se mais em “processadores de informação” do que em “mestres da vida”. Por outro lado, muitos deles precisam enfrentar cada manhã alunos desmotivados e, indolentes, sabendo que quase não encontrarão em seus pais colaboração para sua tarefa.

            Não se trata de culpabilizar ninguém. Mas é necessário dizer alto e bom tom que é toda a sociedade que precisa tomar consciência de que um povo progride quando sabe acolher, cuidar e educar bem as novas gerações. É um erro planejar o futuro descuidando da educação integral de crianças e jovens. É necessário valorizar a família, valorizar melhor os educadores, saber que a tarefa mais importante para o futuro é melhorar a qualidade humana dos que um dia será seus protagonistas.

                        Embora a sociedade não saiba valorizar e agradecer devidamente a tarefa silenciosa de tantos educadores que desgastam sua vida, suas forças e seus nervos junto às crianças, eles precisam saber que seu trabalho, quando realizado responsavelmente, é um dos mais importantes para a construção de um povo. E os que o fazem a partir de uma atitude cristã devem recordar que “quem acolhe uma criança em nome de Jesus, é a Jesus que acolhe”.

Façamos nossa oração:

Senhor Jesus, fira-nos de nosso coração todo ideal humano de grandeza, e faze-nos compreender que ela consiste em fazer-nos servidor. Amém

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