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Tela Tomazeli l Editora

Os novos tempos da neve

“… e elas não vieram mais!” Esta fatalidade, até semana passada, estava sendo pronunciada em lamento pelas neves que tinham abandonado Gramado. Fez lembrar um cronista, ainda mais antigo, que escreveu um réquiem sobre a perplexidade de hoteleira que pintou com lágrimas a afirmação “… e os veranistas não vieram mais”. Referia-se ela ao rebotalho em que Gramado, o mais importante polo turístico gaúcho até a metade do século XX tinha se transformado. Hoje, o município balança o significado desses dois momentos de sua história. Só que a neve voltou.

São Pedro não pode resistir às súplicas de saudade e bem querer dos gramadenses em relação às finuras de seu turismo. Passar o inverno sem ver visitante usando roupas europeias de última moda, já estávamos acostumados; mas não vê-los mais, respingados de branco,  fazendo bonecos de neve, abria uma lacuna que enchíamos de doce espera.

Então nosso vigoroso amor a terra buscou os céus e, a reboque de súplicas vindas de catedrais ou terreiros de macumba, clamou pela neve. E os renovados borbotões derramados em resposta a esses santificados apelos, viram o quanto havíamos mudado.

Parecendo ter sido despejada em lugar errado, empurrada pela surpresa, a neve sentiu que seu tempo havia passado e, constrangida, rapidamente, virou água e escorreu pelas valetas. A beleza da cidade que ela branqueou foi tanta, que sentiu que sua ausência não fez falta. Constatou, enfim, que de modo calculadamente romântico, trocamos flocos de neve por dinheiro no bolso. Dinheiro que os milhões de turistas que vêm nos ver esbanjam de muito bom gosto.

Porém, doce nostalgia gramadense vem coberta de sincera e justa gratidão. Pois, em certo tempo de nosso passado esplendor, a neve foi nosso Natal Luz, nosso Gramado em Concert, nosso Festival de Cinema, gestora de nossas atuais glórias. Então, ela foi tudo de bom que se esperava que fosse. E, dessa vez, foi também.

Então, se for verdade o que dizem sobre a Eternidade, aquela nossa antiga hoteleira deve estar falando: “… ainda bem que eles voltaram”.

Edições Antigas

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