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Colunista l pe.arisilva@hotmail.com

PADRE ARI ANTONIO SILVA – Batizados na Trindade

(Mt 28,16-20)

Solenidade da Santíssima Trindade

A Santíssima Trindade é a face de Deus que Jesus nos revelou. Deus é a comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo. A cada pessoa é atribuída uma ação característica. O Pai envia o Filho com uma missão salvífica, em relação à humanidade. O Espírito Santo é enviado do Pai e pelo Filho para que esteja com os discípulos, em sua missão de testemunhar o Reino do Pai. O Filho tem sua existência totalmente enraizada no Pai. Seu alimento é fazer a vontade do Pai e realizar, com perfeição, a sua obra. O Espírito Santo revela aos discípulos o que ouviu de Jesus. Terminada sua missão terrena, o Filho voltou para junto do Pai, ao passo que o Espírito Santo continua a dinamizar, na história, a obra do Filho.

Quando o cristão é batizado no nome da Trindade, o modo de ser de Deus lhe é apresentado como modelo de vida. A perfeita comunhão existente entre as pessoas da Trindade deve tornar-se o ideal de comunhão dos cristãos. Igualmente, a capacidade de agir de forma integrada, sem concorrências nem sobreposição de um sobre o outro.

A diversidade não é empecilho para que aconteça a comunhão trinitária. As pessoas divinas não precisam abrir mão de suas individualidades para que a Trindade aconteça. A comunhão se faz a partir do diferente, na acolhida e no respeito pelo Outro. Este é o caminho que a comunidade cristã terá de formar, se quiser deixar-se modelar pela Trindade.

 

Jesus está conosco:

O Evangelista Mateus não quis terminar sua narração evangélica com o relato da Ascensão. Seu evangelho, redigido em condições difíceis e críticas para as comunidades cristãs, pedia um final diferente do de Lucas. Por isso termina seu evangelho com uma frase inesquecível de Jesus ressuscitado: “…Sabei que eu estou convosco todos os dias, até o fim do mundo”.

Esta é a fé que animou sempre as comunidades cristãs. Não estamos sós, perdido no meio da história, abandonados às nossas próprias forças e ao nosso pecado. Cristo está conosco. Em momentos como os que nós cristãos estamos vivendo hoje, é fácil cair em lamentações, desânimos e derrotismo. Dir-se-ia que esquecemos algo que precisamos urgentemente lembrar. Ele está conosco.

Para os primeiros cristãos, porém, Jesus não é um personagem do passado, um defunto que se venera e a quem se presta culto, mas alguém vivo que anima, vivifica e cumula com seu espírito a comunidade cristã. “…quando dois ou três crentes se reúnem em seu nome, ali está Ele no meio deles. Os encontros dos crentes não são assembleias de pessoas órfãs que tratam de animar-se mutuamente. No meio delas está Jesus Ressuscitado, com seu alento e sua força dinamizadora. Esquecê-lo é arriscar-nos a enfraquecer radicalmente nossa esperança.

Mas podemos ir mais longe. Quando nos encontramos com uma pessoa necessitada, desprezada ou abandonada, estamos nos encontrando com aquele que quis solidarizar-se com todos os necessitados de maneira radical. Por isso nossa adesão atual a Cristo em nenhum lugar se verifica melhor do que na ajuda e na solidariedade para com o ser humano necessitado: “…toda vez que o fizestes a um destes pequenos, foi a mim que o fizestes”.

O Senhor ressuscitado está na Eucaristia alimentando nossa fé. Está na comunidade cristã infundindo seu Espírito e impulsionando a missão. Está nos pobres movendo nossos corações à compaixão. Está conosco todos os dias até o fim do mundo.

 

O essencial do Credo:

Ao longo dos séculos os teólogos cristãos elaboraram profundos estudos sobre a Trindade. No entanto, muitos cristãos de nossos dias não conseguem captar o que essas admiráveis doutrinas têm a ver com sua vida. Precisamos, sim, recuperar o essencial de nosso Credo para aprender a vivê-lo com nova alegria. “…Creio em Deus Pai, criador do céu e da terra”. Deus é nosso Pai querido. Ele é a origem e a meta de nossa vida. Ele criou a todos nós só por amor, e nos espera com coração de Pai no final de nossa peregrinação por este mundo.

Seu nome é hoje esquecido e negado por muitos. As novas gerações vão se afastando dele, e nós crentes não sabemos transmitir-lhes nossa fé, mas Deus continua olhando a todos nós com amor. Ainda que vivamos cheios de dúvidas, não devemos perder a fé neste Deus, Criador e Pai, pois teríamos perdido nossa última esperança.

“…Creio em Jesus Cristo, seu Filho único, nosso Senhor”. É o grande presente que Deus deu ao mundo. Ele nos contou como é o Pai. Para nós, Jesus nunca será um homem a mais. Olhando para Ele vemos o Pai: em seus gestos captamos sua ternura e compreensão. Nele podemos sentir Deus humano, próximo, amigo. Esse Jesus, Filho amado de Deus, animou-nos a construir uma vida mais fraterna e feliz para todos. É o que mais quer o Pai. Indicou-nos, também, o caminho a seguir: “…sede compassivos como vosso Pai é compassivo”. Se esquecermos a Jesus, quem ocupará o vazio que Ele vai deixar? Quem poderá oferecer-nos sua luz e sua esperança?

“…Creio no Espírito Santo, Senhor e doador de vida”. Este mistério de Deus não é algo longínquo. Está presente no fundo de cada um de nós. Podemos captá-lo como Espírito que dá alento à nossa vida, como Amor que nos leva para os que sofrem. Este Espírito é o melhor que há dentro de nós. É uma grande graça caminhar pela vida batizados no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Não devemos esquecê-lo.

 

É necessário crer na Trindade?

Há dois séculos, o célebre filósofo Immanuel Kant escrevia estas palavras: “…do ponto de vista prático, a doutrina da Trindade é perfeitamente inútil”. Ora, a fé na Trindade muda não só nossa visão de Deus, mas também nossa maneira de entender a vida. Confessar a Trindade de Deus é crer que Deus é um mistério de comunhão e de amor. Não é um ser fechado e impenetrável, imóvel e indiferente. Sua intimidade misteriosa é só amor e comunicação. Consequência: no fundo último da realidade, dando sentido e existência a tudo, não há senão Amor. Tudo o que existe vem do Amor.

O Pai é amor, a fonte de todo amor. Ele começa o amor. “…Só Ele começa a amar sem motivos; mais ainda, é Ele que desde sempre começou a amar”(Eberhard Junge). Criados à imagem desse Deus, fomos feitos para amar-nos, sem açambarcar e sem encerrar-nos em amor fictícios e egoístas.

 

Façamos nossa oração:

Senhor Jesus, que a contemplação da Trindade nos predisponha para construir nossa vida a partir deste modelo consumado de comunhão. Amém.

 

“A responsabilidade pelo conteúdo é única e exclusiva do autor que assina a presente matéria”.

 

Padre Ari Antonio da Silva

Colunista l pe.arisilva@hotmail.com

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