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Colunista l pe.arisilva@hotmail.com

PADRE ARI ANTONIO SILVA – A indignação de Jesus

(Jo 2,13-25)

3º Domingo da Quaresma

 

A indignação de Jesus:

Acompanhado de seus discípulos, Jesus sobe pela primeira vez a Jerusalém para celebrar as festas de Páscoa. Ao aparecer no recinto que rodeia o templo, encontra-se com um espetáculo inesperado. Vendedores de bois, ovelhas e pombas oferecendo aos peregrinos os animais de que necessitam para sacrificá-los em honra de Deus. Cambistas instalados e suas mesas, traficando com o câmbio de moedas pagãs pela única moeda oficial aceita pelos sacerdotes.

Jesus se enche de indignação. Com  um chicote expulsa do recinto sagrado os animais. Derruba as mesas dos cambistas, derramando por terra suas moedas, e grita: “Não convertais a casa de meu Pai num mercado”. Jesus se sente como um estranho naquele lugar. A religião do Templo converteu-se num negócio onde os sacerdotes buscam um bom dinheiro e onde os peregrinos tratam de “comprar” a Deus com suas oferendas. Jesus lembra nesse momento o profeta Oséias quando repetirá mais de uma vez ao longo de sua vida: Assim diz Deus: “Eu quero amor e não sacrifícios”.

A atuação de Jesus coloca a todos nós seus seguidores de sobreaviso e nos obriga a nos perguntar. Que religião estamos cultivando em nossos templos? Se ela não é inspirada por Jesus, pode converter-se numa maneira “santa” de fechar-nos ao projeto de Deus que Jesus queria impulsionar no mundo. O primordial não é a religião, mas o Reino de Deus.

Que religião é a nossa? Ela faz crescer nossa compaixão pelos que sofrem, ou nos permite viver tranquilos em nosso bem-estar? Ela alimenta nossos próprios interesses, ou nos põe a trabalhar por um mundo mais humano? Se ela se parece com a religião do Templo judaico, Jesus não a abençoaria.

 

O amor não se compra:

Quando Jesus entra no Templo não encontra pessoas que buscam a Deus, mas comércio religioso. Sua atuação violenta diante dos “vendedores e cambistas” não é senão a reação do Profeta que se encontra com a religião convertida em mercado. O grave é esquecer que Deus é amor, e o amor não se compra. Por alguma razão, dizia Jesus que Deus “quer amor e não sacrifícios”.

Talvez o mais importante que precisamos escutar hoje na Igreja é o anúncio da gratuidade de Deus. Num mundo convertido em mercado, onde tudo é exigido, comprado ou ganho, só o gratuito pode continuar fascinando e surpreendendo, pois é o sinal mais autêntico do amor.

Nós crentes devemos estar atentos para não desfigurar um Deus que é amor gratuito, fazendo-o à nossa medida: triste, egoísta e pequena como nossas vidas mercantilizadas.

Quem conhece “a sensação da graça” e experimentou alguma vez o amor surpreendente de Deus, sente-se convidado a irradiar sua gratuidade e, provavelmente, é quem melhor pode introduzir algo bom e novo nesta sociedade onde tantas pessoas morrem de solidão, de tédio e de falta de amor.

 

Um templo novo:

Os quatro evangelistas se fazem eco do gesto provocativo de Jesus expulsando do templo “vendedores de animais e cambistas de dinheiro”. Não pode suportar ver a casa de seu Pai cheia de gente que vive do culto. A Deus não se compra com sacrifícios. Mas João, o último evangelista acrescenta um diálogo com os judeus, no qual Jesus afirma de maneira solene que, depois da destruição do Templo, Ele “o levantará em três dias”. Ninguém conseguiu entender o que Ele dizia. Por isso o evangelista acrescenta: “Jesus falava do templo de seu corpo”.

Não esqueçamos que João está escrevendo seu Evangelho quando o Templo de Jerusalém já estava destruído há vinte ou trinta anos. Muitos judeus se sentiam órfãos. O Templo era o coração de sua religião. Como poderão sobreviver sem a presença de Deus no meio de seu povo?

O Evangelista faz os seguidores de Jesus lembrar que eles não hão de sentir nostalgia do velho Templo. Jesus “destruído” pelas autoridades religiosas, mas “ressuscitado” pelo Pai, é o “novo Templo”. Não é uma metáfora atrevida. É uma realidade que há de marcar para sempre a relação dos cristãos com Deus. Para aqueles que veem em Jesus o novo Templo, onde Deus habita tudo é diferente. Para encontrar-se com Ele não basta entrar numa Igreja. É necessário aproximar-se de Jesus, entrar em seu projeto, seguir seus passos, viver com seu espírito.

Neste novo Templo que é Jesus, para adorar a Deus não basta o incenso, as aclamações nem as liturgias solenes. Os verdadeiros adoradores são aqueles que vivem diante de Deus “em espírito e em verdade”. A verdadeira adoração consiste em viver com o “Espírito” de Jesus na “verdade” do Evangelho. Sem isto, o culto é “adoração vazia”.

As portas deste novo Templo que é Jesus estão abertas a todos. Ninguém está excluído. Podem entrar nele os pecadores, os impuros e inclusive os pagãos. O Deus que habita Jesus é de todos e para todos. Nesse Templo não se faz nenhuma discriminação. Não há espaços diferentes para homens e mulheres. Não há raças eleitas, nem povos excluídos. Os únicos preferidos são os necessitados de amor e de vida.

 

Façamos nossa oração:

Querido Pai do céu, através da tua graça nos ajude a vivermos segundo os princípios de teu Reino. Teu Reino requer mudança de mentalidade, conversão do coração mediante o coração puro, simples e generoso no acolhimento de todos os nossos irmãos, de modo especial os mais necessitados. Amém

 

“A responsabilidade pelo conteúdo é única e exclusiva do autor que assina a presente matéria”.

Padre Ari Antonio da Silva

Colunista l pe.arisilva@hotmail.com

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