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Colunista l pe.arisilva@hotmail.com

PADRE ARI ANTONIO SILVA – Paixão pela vida

5º Domingo do Tempo Comum

(Mc 1,29-39)

 

A mão estendida de Jesus:

A exegese moderna tomou consciência de que toda a atuação de Jesus está sustentada pela “gestualidade”. Não basta, por isso, analisar suas palavras. É necessário estudar, além disso, o conteúdo profundo dos seus gestos. As mãos são de grande importância no gesto humano. Podem curar ou ferir, acariciar ou golpear, acolher ou rejeitar. As mãos podem refletir o ser da pessoa, Por isso se estuda hoje com atenção as mãos de Jesus, nas quais tanto insistem os evangelistas.

Jesus toca os discípulos caídos por terra para devolver-lhes a confiança: “Levantai-vos, não temais”. Quando Pedro começa a afundar, estende-lhe a mão, o agarra e lhe diz: “Homem de pouca fé, por que duvidaste”? Jesus é muitas vezes a mão que levanta, infunde força e põe a pessoa de pé.

Os evangelistas destacam, sobretudo, os gestos de Jesus com os enfermos. São significativos os matizes expressos pelos diferentes verbos. Às vezes Jesus “agarra” o enfermo para arrancá-lo do mal. Outras vezes “impõe” suas mãos num gesto de bênção, que transmite sua força curativa. Com frequência estende a mão para “tocar” os leprosos num gesto de proximidade, apoio e compaixão. Jesus é mão próxima que acolhe os impuros e os protege da exclusão.

A partir destas chaves precisamos ler também o relato de Cafarnaum. Jesus entra na casa de uma mulher enferma, aproxima-se dela, toma-a pela mão e a levanta num gesto de proximidade e de apoio que lhe transmite nova força. Jesus Cristo é para os cristãos “a mão que Deus estende” a todo ser humano necessitado de força, apoio, companhia e proteção. É esta experiência do crente ao longo de sua vida, enquanto caminha para o Pai.

 

Paixão pela vida:

Onde está Jesus cresce a vida. Isso se verifica nas páginas afetuosas do evangelista Marcos e se encontra com esse Jesus que cura os enfermos, acolhe os desvalidos, sara os perturbados e perdoa os pecadores. Onde está Jesus existe amor à vida, interesse pelos que sofrem, paixão pela libertação do mal. Não deveríamos esquecer nunca que a primeira imagem que os relatos evangélicos nos oferecem é a de um Jesus curador. Um homem que difunde vida e restaura o que está enfermo.

Por isso encontramos sempre ao seu redor a miséria da humanidade: possessos, paralíticos, leprosos, cegos, surdos. Homens aos quais falta vida; “os que estão às escuras”, como diria Bertold Brecht. As curas de Jesus não solucionaram praticamente nada na história dolorosa dos homens. Sua presença salvadora não resolveu os problemas. É preciso continuar lutando contra o mal. Mas nos revelaram algo decisivo e esperançoso. Deus é amigo da vida e ama apaixonadamente a felicidade, a saúde, o prazer, a alegria e a plenitude de seus filhos e filhas.

É inquietante ver com que facilidade nos acostumamos com a morte: a morte da natureza, destruída pela poluição industrial, a morte nas estradas, a morte pela violência, a morte dos que não chegam a nascer, a morte das almas. É insuportável observar com que indiferença escutamos cifras aterradoras que nos falam da morte de milhões de famintos no mundo e com que passividade contemplamos a violência silenciosa, mas eficaz e constante; de estruturas injustas que submergem os fracos na marginalização.

As dores  e sofrimentos alheios nos preocupam pouco. Cada um parece interessar-se apenas por seus problemas, seu bem-estar ou sua segurança pessoal. A apatia vai se apoderando de muitos. Corremos o risco de tornar-nos cada vez mais incapazes de amar a vida e de vibrar com aquele que não pode viver feliz.

 

Aliviar o sofrimento:

A doença é uma das experiências mais duras do ser humano. Não só padece o doente que sente sua vida ameaçada e sofre sem saber por que; para que e até quando. Sofre também sua família, os entes queridos e os que o atendem. De pouco servem as palavras e explicações. O que fazer quando a ciência já não pode deter o inevitável? Como enfrentar de maneira humana a deterioração? Como estar junto ao familiar ou ao amigo gravemente doente?

A primeira coisa é aproximar-se. O que sofre não pode ser ajudado de longe. É preciso estar perto. Sem pressa, com discrição e respeito total. Ajudá-lo a lutar contra a dor. Dar-lhe forças para que colabore com os que procuram curá-lo. Isto exige acompanha-lo nas diversas etapas da doença e nos diferentes estados de ânimo. Oferecer-lhe aquilo que ele necessita em cada momento. Não incomodar-nos diante de sua irritabilidade. Ter paciência. Permanecer junto dele.

É importante escutá-lo. Que o doente possa contar e compartilhar aquilo que traz dentro de si: as esperanças frustradas, suas queixas e medos, sua angústia diante do futuro. É um alívio para o doente poder desabafar com alguém de confiança. Nem sempre é fácil escutar. A escuta requer colocar-se no lugar daquele que sofre e estar atento ao que ele nos diz com suas palavras e, sobretudo, com seus silêncios, gestos e olhares.

Por outro lado, o doente pode também precisar reconciliar-se consigo mesmo, curar as feridas do passado, dar um sentido mais profundo ao seu sofrimento, purificar sua relação com Deus. O crente pode então ajuda-lo a rezar, a viver com paz interior, a crer no perdão de Deus e confiar em seu amor salvador.

O evangelista Marcos nos diz que as pessoas levavam seus enfermos possessos até Jesus. Ele sabia acolhê-los com carinho, despertar sua confiança em Deus, perdoar seu pecado, aliviar sua dor e curar sua enfermidade. Sua atuação diante do sofrimento humano será sempre, para os cristãos, o exemplo a seguir no trato com os enfermos. Segundo o pensador Eugen Biser afirma: “O cristianismo é uma religião terapêutica”, algo diferente de outras religiões.

Com o avanço da ciência a cura foi passando inteiramente para as mãos da ciência médica. No entanto, preciso saber que a religião não é um remédio terapêutico a mais. A perspectiva deve ser outra. A medicina moderna concentrou-se sem curar órgãos e reparar disfunções, mas a pessoa é muito mais do que um “caso clínico”. Não basta curar as enfermidades e doenças. É o ser humano que precisa ser curado.

Por quê? Assegurada a cura de boa parte das enfermidades graves, o mal sai pela porta traseira e volta a entrar no ser humano sob a forma de sentido, depressão, solidão ou vazio interior. Não basta curar algumas enfermidades para viver de maneira sadia.

Talvez, nos próximos séculos, só acreditarão os que experimentarem que Deus lhes faz bem, os que comprovarem que a fé é o melhor estímulo e a maior força para viver de maneira mais sadia, com sentido e esperança.

 

Façamos nossa oração:

Querido Pai do céu, diante da realidade do mundo presente parece que tudo é fácil, bonito e fascinante, até o momento em que sentimos que as forças vão diminuindo. É preciso que com tua graça nós, saibamos que chegará o momento em que necessitamos muito mais de tua graça e força. Que em nenhum momento de nossa vida sejamos arrogantes e auto suficientes, mas que sempre estejamos em sintonia com a tua graça e misericórdia. Amém

 

“A responsabilidade pelo conteúdo é única e exclusiva do autor que assina a presente matéria”.

Padre Ari Antonio da Silva

Colunista l pe.arisilva@hotmail.com

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