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Colunista l pe.arisilva@hotmail.com

Vamos a Belém!

(Lc 2,15-20)

Homilia do Dia de Natal – 25/12/2023

O nascimento do Messias Jesus está todo envolvido no mistério divino, que se manifesta na pobreza e na humildade. Tudo o que se pode contemplar nos eventos de Belém traz uma marca de grandeza. Exatamente por aí é possível detectar a pedagogia divina em sua plena expressão.

Os Pastores pertenciam a uma classe socialmente marginalizada. Eram malvistos e desprezados pelos agricultores, e tidos como elementos perigosos, pois suas manadas de cabras ou gados punham em risco as lavouras e plantações. Daí terem de viver com seus rebanhos longe das cidades, para não serem uma ameaça para as propriedades alheias.

São estes marginalizados os escolhidos para receber a revelação celeste do nascimento do Messias. São eles os primeiros a se colocarem a caminho de Belém, para averiguar o acontecimento maravilhoso, anunciado pelo Senhor.

O que encontram? Uma pobre família, com um filho recém-nascido, colocado num cocho onde os animais comiam. Apesar da pobreza em que se encontravam, não duvidaram das palavras do anjo. Por isso, glorificavam a Deus pelo acontecido.

Este grupo de marginalizados soube perceber que, na periferia do mundo, Deus estava operando maravilhas, e a salvação, acontecendo.

 

Nasceu-nos o Salvador:

Anuncia-se o Natal e se oculta o seu motivo. Muitos já não se lembram de onde está o coração das festas. Por que não ouvir o “primeiro pregão de Natal”? Foi composto pelo evangelista Lucas por volta do ano 80 depois de Cristo. De acordo com o relato, é noite escura. De repente uma “claridade” envolve com seu esplendor alguns pastores. “O Evangelista diz que é a glória do Senhor”. A imagem é grandiosa: a noite fica iluminada. No entanto, os pastores “se enchem de temor”. Eles não têm medo das trevas, mas da luz. Por isso o anúncio começa com estas palavras: “Não temais”.

Não devemos estranhar. Preferimos viver nas trevas. A luz de Deus nos causa medo. Não queremos viver na verdade. Quem nestes dias não puser mais luz e verdade em sua vida não celebrará o Natal. O mensageiro continua: “Trago-vos a Boa Notícia, a grande alegria para todo o povo”. A alegria do Natal não é uma alegria a mais entre as outras. É preciso não confundi-la com qualquer bem-estar satisfação ou desfrute. É uma alegria “grande inconfundível, que vem da “Boa Notícia” de Jesus”. Por isso é “para todo o povo” e deve chegar, sobretudo, aos que sofrem e vivem tristes.

 

Precisamos voltar à Belém:

Se Jesus já não é uma “Boa Notícia”, se seu Evangelho não nos diz nada, se não conhecemos a alegria que só nos pode vir de Deus, se reduzimos estas festas a desfrutar um seu bem estar ou a alimentar um prazer religioso egoísta, celebremos qualquer coisa menos o Natal. A única razão para celebrar o Natal: “Nasceu-vos hoje o Salvador”. Este menino não nasceu para Maria e José. Não e deles. É de todos. É o “Salvador” do mundo. O único no qual podemos pôr nossa última esperança. Este mundo do que conhecemos não é a verdade definitiva. Jesus Cristo é a esperança de que a injustiça que hoje tudo envolve não prevalecerá para sempre. Sem esta esperança não há Natal. Despertaremos nossos melhores sentimentos, desfrutaremos o lar e a amizade, nos daremos momentos de felicidade. Tudo isso é bom. Muito bom. Mas ainda não é Natal.

Santa Teresa de Lisieux, dizia: “Não posso temer um Deus que se fez tão pequeno por mim. (…) Eu o amo”. A manjedoura é o primeiro lugar da terra onde descansa esse Deus feito criança. Essa manjedoura é o sinal para reconhecê-lo, o lugar onde é preciso encontrá-lo. O que se esconde por trás desse enigma?

São Lucas nos diz que Deus não deve ser procurado no admirável e maravilhoso, mas no ordinário e cotidiano. Não se deve investigar no grande, mas rastrear no pequeno. Os pastores nos mostram em que direção procurar o mistério do Natal. “Vamos a Belém”. Mudemos nossa ideia de Deus. Façamos uma releitura de nosso cristianismo. Voltemos ao início e descubramos um Deus próximo e pobre. Acolhamos sua ternura. Para o cristão, celebrar o Natal é “retornar a Belém”. Erich Fromm dizia: “Enquanto continuarmos alimentando o desejo de posse não será possível cantar entre nós a paz entoada em Belém: A ideia de que se pode fomentar a paz enquanto se estimulam os esforços de posse e lucro é uma ilusão”.

 

Façamos nossa oração:

Espírito de pobreza e humildade, contemplando o nascimento do Messias Jesus, faça-nos compreender como a salvação começa acontecer na periferia do nosso mundo. Amém

Padre Ari Antonio da Silva

Colunista l pe.arisilva@hotmail.com

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