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Viver despertos!

(Lc 21,25-28.34-36)

1º Domingo do Advento

            Para falar de sua segunda vinda (advento), Jesus recorre à linguagem apocalíptica, aliás, muito comum nos ambientes religiosos da época. Este modo de falar provém da linguagem profética, a qual descreve, em forma de perturbação da natureza, o julgamento de Deus sobre o povo de Israel, que persistia em sua infidelidade.

            A intenção de Jesus é revigorar a esperança dos discípulos, evitando que se deixem abater pelo pessimismo. Por conseguinte, quem se deixa atemorizar com as imagens utilizadas, é porque não atinou com a mensagem veiculada.

            Os discípulos são instruídos a olhar para além da morte e do fim. Toda história e a vida humana têm, como objetivo último, o encontro com o Filho do Homem. O destino de tudo é a perfeita comunhão com ele, no Reino a ser plenificado.

            Entretanto, em meio a dificuldades e tentações, Jesus insiste para que o discípulo mantenha vivo o desejo de encontrar-se com o Senhor, e se prepare para esse dia. Viver na devassidão, entregar-se aos vícios, ficar assoberbado com as preocupações da vida poderá desviar seu coração das coisas fundamentais, e assim, torná-lo inapto para acolher o Senhor que virá.

            Discernimento e oração são sugeridos por Jesus para quem deseja, efetivamente, experimentar a plenitude do Reino de Deus.

Permanecei sempre despertos!

            Os discursos apocalípticos recolhidos nos evangelhos refletem os medos e as incertezas daquelas primeiras comunidades cristãs, frágeis e vulneráveis, que viviam no meio do vasto império romano entre conflitos e perseguições, com um futuro incerto, sem saber quando chegaria Jesus, seu Senhor amado. Este chamado a viver despertos é através da oração e da confiança, pois é um traço original e característico do Profeta da Galileia.

            Depois de vinte séculos, a Igreja atual caminha como uma anciã “encurvada” pelo peso dos séculos, pelas lutas e trabalhos do passado. “Com a cabeça baixa”, consciente de seus erros e pecados, sem poder mostrar com orgulho e glória e o poder de outros tempos. É o momento de escutar o chamado que Jesus dirige a todos nós.  “Erguei-vos”, animai uns aos outros. “Levantai a cabeça” com confiança. Não olheis o futuro somente a partir de vossos cálculos e previsões. “Aproxima-se a vossa libertação”. Um dia já não vivereis encurvados, oprimidos nem tentados pelo desânimo. Jesus Cristo é o vosso libertador.

O que é viver despertos?

            Jesus não se dedicou a explicar uma doutrina religiosa para que seus discípulos a aprendessem corretamente e a difundissem depois por todos os lugares. Não era este o objetivo. Ele lhes falava de um “acontecimento” que já estava em andamento. “Deus está se aproximando no mundo”. Ele quer que as coisas mudem. Ele só busca que a vida seja mais digna e feliz para todos. Jesus chamava a isto “reino de Deus”.

A primeira coisa que precisamos alimentar para seguir seus passos:

  1. “Viver despertos” que significa não cair no ceticismo, na indiferença diante da marcha do mundo. Não deixar que nosso coração se endureça. Não ficar apenas em queixas, críticas e condenações. Despertar ativamente a esperança.
  2. “Viver despertos” significa viver de maneira mais lúcida, sem deixar-nos arrastar pela insensatez que às vezes parece invadir tudo. Atrever-nos a ser diferentes. Não deixar que se apague em nós o desejo de buscar o bem para todos.
  3. “Viver despertos” significa viver com paixão a pequena aventura de cada dia. Não desinteressar-nos dos que necessitam de nós. Continuar fazendo esses “pequenos gestos” que aparentemente não servem para nada, mas que sustentam a esperança das pessoas e tornam a vida um pouco mais amável.
  4. “Viver despertos” significa despertar nossa fé. Buscar a Deus na vida e a partir da vida. Intuí-lo muito perto de cada pessoa. Descobri-lo atraindo-nos a todos nós para a felicidade. Viver não só de nossos pequenos projetos, mas atentos ao projeto de Deus.

Alimentar a esperança

            Todos nós vivemos com o olhar fixo no futuro. Sempre pensando no que nos espera. E não só isso. No fundo, quase todos nós andamos buscando “algo melhor”, uma segurança, um bem-estar maior. Queremos que tudo corra bem e, se possível, que nos corra bem melhor. É essa confiança básica que nos sustenta no trabalho e nos esforços de cada dia. Por isso quando a esperança se apaga, apaga-se também a vida.

A pessoa já não cresce, não busca, não luta. Pelo contrário, se apequena, desaba, deixa-se levar pelos acontecimentos. Se se perde a esperança perde-se tudo. Por isso, a primeira coisa que é preciso alimentar no coração das pessoas, no seio da sociedade ou na relação com Deus, é a esperança.

            A esperança não consiste na reação otimista de um momento. É, antes, um estilo de vida, uma maneira de enfrentar o futuro de forma positiva e confiante, sem deixar-nos cair no derrotismo. O futuro pode ser mais ou menos favorável, mas a característica peculiar de quem vive com esperança é sua atitude positiva, seu desejo de viver e de lutar, sua postura decidida e confiante. Nem sempre é fácil. É preciso trabalhar a esperança.

            A esperança não é uma atitude passiva, é um estímulo que nos impele à ação. Quem vive animado pela esperança não cai na inércia. Quem vive com esperança é realista, assume os problemas e as dificuldades, mas o faz de maneira criativa, dando passos, buscando soluções e transmitindo confiança.

            A esperança não se sustenta no ar. Tem suas raízes na vida. O ser humano precisa de uma esperança mais radical e indestrutível, que possa sustentar-se quando toda outra esperança desaba. Assim é a esperança de Deus, salvador último do ser humano. Quando andamos cabisbaixos e com o coração desanimado, precisamos escutar estas inesquecíveis palavras de Jesus: “Levantai-vos a cabeça, pois se aproxima vossa libertação”.

            As palavras de Jesus não perderam atualidade, porque também hoje continuamos matando a esperança e estragando a vida de muitas maneiras. Quando numa sociedade, se tem como objetivo quase único da vida satisfazer cegamente os apetites e cada um se fecha em seu próprio desfrute, ali a esperança morre. Precisamos continuar buscando o reino de Deus e sua justiça.

Façamos nossa oração:

Espírito de oração vigilante conserva-nos em estado de contínuo alerta, a fim de que nós nos preparemos, pela vivência do amor, para a chegada do Cristo que vem. Amém.

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