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Tela Tomazeli l Editora

São amigos e não adversários

(Mc 9,38-43.45.47-48)

26° Domingo do Tempo Comum

            Um fenômeno de exorcismo causou preocupação no grupo de discípulos de Jesus. A pessoa expulsava demônios, em nome de Jesus, não pertencia ao grupo dos doze. A reação espontânea foi a de proibi-la, como se estivesse agindo de maneira abusiva.

            A atitude intolerante dos discípulos escondia uma forte dose de sectarismo. Pareciam mais preocupados em garantir sua fama e o sucesso do grupo, do que com a expansão do Reino, que prescindia deles. O exorcismo, feito por um desconhecido, fora considerado como uma forma de concorrência. Os discípulos sentiam que estavam perdendo o controle da missão que lhes fora confiada por Jesus. Talvez se julgassem detentores exclusivos desta missão, não admitindo a participação dos outros.

            Jesus assumiu uma atitude de extrema tolerância em relação ao exorcista anônimo e não aprovou a proibição que lhe fora imposta. Se o indivíduo, de fato, foi capaz de realizar um milagre, invocando o nome de Jesus, é porque de alguma forma, sabia-se em comunhão com ele. Seria impensável que, logo em seguida, se pusesse a falar mal do Mestre e desmerecer sua obra. Portanto, podia continuar livremente a fazer o bem em nome dele.

            A orientação de Jesus evitou que a comunidade dos discípulos se fechasse em si mesma, transformando-se numa seita intolerante. Foi uma orientação ecumênica.

São amigos, não adversários.

            Apesar dos esforços de Jesus por ensinar-lhes a viver como ele, ao serviço do reino de Deus, tornando a vida das pessoas mais humana digna e feliz, os discípulos acabavam não entendendo o Espírito que os animava, seu grande amor aos mais necessitados e a orientação profunda de suas vidas. O relato de Marcos é muito iluminador. Os discípulos informam Jesus de um fato que os incomodou muito.

            Jesus reprovou a postura sectária e excludente de seus discípulos, que só pensavam em seu prestígio e crescimento e adota uma atitude aberta e inclusiva, na qual a primeira coisa a fazer é libertar o ser humano daquilo que o esvazia e destrói. É este o Espírito que deve animar sempre seus verdadeiros seguidores. “Quem não está contra nós está a nosso favor”. Quem torna presente no mundo a força curadora e libertadora de Jesus, está a favor de seu grupo.

            É importante frisar que fora da Igreja Católica existe no mundo um número incontável de homens e mulheres que fazem e vivem trabalhando por uma humanidade mais digna, justa e mais libertada. Neles está vivo o Espírito de Jesus. Precisamos vê-los como amigos e aliados, não como adversários. Eles não estão contra nós, pois estão a favor do ser humano, como Jesus estava.

            Por outro lado, se percebe pelo texto do evangelho de Marcos que os discípulos não toleravam a atividade libertadora de alguém que não estivesse com eles. Jesus reprova a atitude deles, pois segundo Jesus, quem desenvolve uma atividade humanizadora já está de alguma maneira, vinculado a Jesus e ao seu projeto de salvação. Seus seguidores não devem monopolizar a salvação de Deus.

            A crise pela qual passa hoje a Igreja é uma oportunidade para que nós, seguidores de Jesus recordemos que nossa primeira tarefa não é organizar e desenvolver com êxito nossa própria religião, mas ser fermento de uma humanidade nova. Portanto, todos os que e de alguma maneira, lutam pela causa do homem estão conosco.

            Nós cristãos precisamos valorizar com prazer todos os sucessos humanos, grandes ou pequenos, e todos os triunfos da justiça alcançados no campo político, econômico e social, por modestos que nos possam parecer. Longe de acreditar-nos portadores únicos de salvação, nós cristãos precisamos acolher com alegria e com prazer essa corrente de salvação que abre caminho na história dos homens, não só na Igreja, mas também junto a ela e para além de nossas instituições. Deus está atuando no mundo.

Fidelidade a Jesus e pluralismo

            Pouco a pouco se vai tomando consciência de que um dos fatos mais importantes e de consequências mais profundas da época moderna é, sem dúvida, o pluralismo. A cultura moderna, o desenvolvimento dos meios de comunicação e a mobilidade das pessoas fazem com que qualquer pessoa entre hoje em contato com outras culturas, religiões ou ideologias muito diferentes das suas.

            O novo pluralismo moderno é a força que vai adquirindo esse fenômeno que o sociólogo norte-americano Peter Berger chama de “a contaminação cognoscitiva”, ou seja, os diferentes estilos de vida, valores crenças, posições religiosas e morais que se misturam cada vez mais. E não só no seio da sociedade; também no interior de cada pessoa. Muitas pessoas reagem diante disso e se perguntam: Onde estará a verdade?

            Não é fácil viver hoje com honestidade as próprias convicções numa sociedade que parece tolerar tudo, mas na qual, ao mesmo tempo, os fanatismos voltam a ganhar tanta força. Nós cristãos precisaremos aprender a viver nossa própria fé sem dissolvê-la levianamente em falsos relativismos e sem fechar-nos cegamente em fanatismos que pouco têm a ver com o espírito de Jesus. Sempre é possível a fidelidade a Jesus e ao seu projeto, e a abertura honesta a tudo de bom e positivo que se encontra fora do cristianismo. É esta a lição que nos chega desse Jesus. A mensagem é clara: aquele que faz o bem, mesmo que não seja dos nossos, está a nosso favor.

Façamos nossa oração:

Senhor Jesus, faze-nos alegrar com o Reino que dá seus frutos, na história humana, das formas mais imprevistas, para além do controle humano. Amém.

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