O vertiginoso progresso que se tem acompanhado nas últimas décadas nas diversas áreas do conhecimento humano, tem conduzido muitas pessoas a se embriagarem de orgulho e com certa ostentação ante o progresso e o desenvolvimento como se fossem verdades últimas. Se por um lado, o desenvolvimento é uma bênção, mas, também, um mandato do Senhor ao criar o ser humano à sua imagem e semelhança (Gn 1,27), e recebido a tarefa de ampliar e tornar sempre mais bonita a criação, (Gn1,28ss). Por outro, percebe-se em uma parcela do tecido social o fechamento sobre si mesmo, arrotando grandeza e autossuficiência.
Tal postura tem conduzido a cultura contemporânea a uma crise de sem precedente de sentido existencial, justamente por estar embebida nessa arrogância que paulatinamente imerja no afogamento pela própria saliva. Por quê?
“...quando o homem decide rejeitando o ser, aguça-se a culpa, a inautenticidade e experimenta a angústia, a neurose, a cisão. O orgulho humano pode não perceber esse corte, mas o coração inconsciente de todo o seu ser chora a própria agonia”. (MENGHETTI, Antonio – Filosofia Ontopsicológica – Ontopsicológica Editora Universitária – Recanto Maestro 2015 p.19).
Caro leitor! Um dado esclarecedor dessa realidade hodierna é o expressivo número de pessoas com depressão, angústias, medos e tristezas com consequência, os consultórios estão lotados de pacientes para serem atendidos em suas mazelas. É uma busca justa, mas será que é suficiente? Toda vez que o ser humano se volta de forma egoísta para o fechamento no seu “Eu” a fim de satisfazer seus desejos e sua ânsia de possuir “coisas”, ele rompe com a visão do todo e prescinde de uma ação por algo que vai além dele mesmo.
Caro leitor! O homem contemporâneo necessita ter uma consciência mais crítica sobre si mesmo, pois “...não pode colher a própria originária subjetividade fora do próprio ato da existência”, embora a sua “subjetiva universalidade é forçada pelo ser-aí-situacional. É nisso que muitos erram, ou seja, quando focam no aqui e no agora e esquecem de olhar além de si próprio. Tal postura induz ao vazio. Por quê?
“...seu ato extrapola sempre da área de toda espacialidade temporal, por isso o homem cria a relação instante com a eternidade e, toda história torna-se momento metafísico do ser do homem”. (ibidem MENEGHETTI, Antonio p.23). Em verdade trata-se de um “...estado de graça pelo qual somos presenciados pelo absoluto”. E isso nos mostra com certeza que “o coração do homem tende ao próprio Deus.
O PAPEL DO PSICÓLOGO NA ORIENTAÇÃO DAS PESSOAS SEGUNDO CARL GUSTAVO JUNG.
É interessante observar a visão Junguiana em relação aos profissionais da saúde mental e psicológica. Veja caro leitor! “...o verdadeiro psicólogo, quando ser psicoterapeuta, deve lembrar que em realidade deve ser não um mestre, mas um fiel servidor do em si profundo do paciente”. (op cit Jung in Meneghetti p. 24). A partir desse contexto Meneghetti frisa com firmeza que: “...não pode propor arbitrariamente, mas humildemente desaparecer onde é exigido o serviço”. Em contrapartida ele segue dizendo:
“...o psicoterapeuta não cura de per si, mas expõe a própria maturidade moral que se torna ocasião de integração para o paciente. O trabalho que se conduz sobre a alma é uma das tarefas mais árduas”. (ibidem).
O que chama a atenção no pensamento de Meneghetti, é quando ele faz uma crítica contundente ao procedimento de muitos profissionais da saúde, embora não queira atingir diretamente aos mesmos, e sim, às Escolas de formação dos mesmos. Veja, caro leitor o que diz:
“...infelizmente, hoje em dia, demasiadas incompetentes – não sem culpa das faculdades de medicina – arrogam-se a pretensão de curar o homem sem conhecimento da alma que, no entanto, está entre os fatores etiológicos da patologia em geral e é o principal fator nas patologias noéticas. (ibidem p.25).
Portanto, é preciso, sem dúvida, ter a preocupação de desenvolver personalidades autênticas e isso, somente é possível à medida que se cria uma consciência de grupo aonde haja possibilidade de exprimir o espírito de solidariedade como interdependência de um destino comum. Por isso Meneghetti, fala de “...estabelecer um plano social a submissão do fato ao homem e não vice-versa”. Por quê? Todo o dado social deve revelar a pessoa. Ora, o homem de hoje, adverte-se como um “fazer-se”, uma busca pragmática do próprio ser: a sua essência já é dada, mas será somente o futuro a revelá-la”. (ibidem). O que chama a atenção nesse aspecto é que a sociedade hodierna funda o próprio progresso na mudança contínua das estruturas e dos valores. Portanto, fica claro que a transição está se tornando um dado permanente. Com isso, “...o progresso pessoal do homem é condicionado pela velocidade de adaptação. A sociedade técnica- industrial moderna constitui um desafio para o homem, visto que o solicita a empenhos inesperados para os quais ele está despreparado”. Ibidem p.26).
A CONSCIÊNCIA HUMANA JÁ POSSUI EM SI O VALOR ORIGINÁRIO AO PRÓPRIO FIM
Outro aspecto a ser levado em consideração é com referência à consciência, pois quando o ser humano se deixa conduzir pela onda do momento acaba por descer a ladeira da superficialidade existencial. Daí a necessidade de o homem ter uma consciência crítica em seu meio ambiente. Por quê?
“...a falta de posicionamento crítico põe o homem ao léu da última informação ou a responder como coisa a critérios econômicos: em tal caso, o homem é orientado mais a consumir do que a crescer como pessoa. (ibidem). E o autor segue:
“...o homem é, ao mesmo tempo, sujeito e objeto da transformação social. Para não perecer, deve adquirir uma consciência madura das necessidades pessoais e uma capacidade de concorrer responsavelmente à formulação das escolhas de valor operativo e de autogeri-las.
Outro aspecto que Meneghetti nos aponta para analisar e questionar, trata-se da distinção que ele faz entre personalidade-esquema e personalidade autêntica. Na prática ele quer nos dizer quando se refere a personalidade-esquema que no dia a dia da existência, sem nos dar conta, “somos tranquilos repetidores de detalhadas imposições sociais, como também seguidores conformistas. Por exemplo, o porquê de atar os cadarços dos sapatos, fazer a barba e etc, mesmo onde e quando acreditamos ser pessoas, somos, em vez disso, codificados. Entretanto, diz ele, “...não se pode fugir de uma margem de personalidade esquema, contudo devemos nos preocupar com a nossa autenticidade, ou seja, limpar da areia soprada pelos ventos periódicos da sociedade”.
Dando sequência a questão que diz respeito a personalidade autêntica, pergunta-se: Em que consiste uma verdadeira e autêntica? “...na capacidade de saber aceitar o outro enquanto outro. a maioria sempre vê os outros como estranhos. Daí infere-se que “...aceitar o outro enquanto outro significa acolher com amor um outro-Eu, uma diversidade subjetiva que pode aprofundar o significado de existir”. (ibidem p. 27). Por outro lado, fica explícito que “...o sujeito de personalidade autêntica é um inquieto, um inovador e que está disposto a sacrificar a própria história para se colocar como nova função no resolver a contradição”.
Nesse contexto emerge a antropologia funcional. Em que consiste? “...é humanidade que continuamente se renova para inventar valores de solução para os problemas que a existência apresenta”. (ibidem). Ora, “...o valor não é uma ideia, mas uma voz do ser que urge como necessidade, é uma relação transcendente do ser que exige concretização no coração do homem, sob pena de uma progressiva autonegação. O valor é uma ideia-força que, por meio da autenticidade (ou consciência funcional) humana torna-se especificada de oportuna solução”. (MENEGHETTI, p.27).
Daí infere-se que “...quando uma estrutura social ou ação humana não leva a verificar um aumento de ser interior, é sinal que se tornou apenas forma de poder inibidor e perde toda relação com a vitalidade do ser, e, por isso, enrijece o próprio significado de ser homem”. (MENEGHETTI, p.28).
COMO ACONTECE A IDENTIFICAÇÃO E A NEUROSE ONTOLÓGICA?
Meneghetti diz que esse processo de identificação tem dois lados, ou seja, quando bem especificado e regulado, o mesmo conduz à “...maturidade o indivíduo, caso contrário, bloqueia e perturba a autenticidade”. É por isso que toda identificação é um perigo para a alienação e/ou falsificação de si mesmo.
Hoje no contexto contemporâneo fica claro que se vive experiências oferecidas pela sociedade com comportamentos que são simplesmente ilusórios para a própria orientação no crescimento interior das pessoas, e, isso, dispersa o próprio sujeito de sua interioridade, principalmente quando se trata da formação das novas gerações. É preciso ter ciência nesse processo que: “...a sede da neurose ontológica é o inconsciente, entendido como originalidade primordial do homem. Nele, revela-se a urgência do ser como experiencialidade psicológica. O inconsciente é o portador da dinâmica da autenticidade; portanto, não é necessário bloqueá-lo, mas apenas coordená-lo. Ele é a instintividade que, com a ajuda da razão e o impulso da vontade, pode amadurecer-se nas possibilidades intrínsecas”. (ibidem MENEGHETTI, p. 28).
Ora, quando no dia a dia da existência num processo de decisão que se tomou e que não foi correta, é, justamente no inconsciente que posteriormente vai se externar com dor, e que na prática vai se externar através do remorso, da neurose e psicopatia. Então diz Meneghetti, é que a contradição ontológica se fenomeniza em contradição psicológica dolorosa. A esta altura, então, cumpre perguntar: O que significa “tensão ontológica”?
“...é fome inquieta do mais ser, jamais aquiescência ao existido. O homem deve sucessivamente se desprender de todo modelo cultural, psicológico, exemplar, comportamental, social etc. para inventar um outro que permita melhor a funcionalidade do ser no próprio existir”. (ibidem p. 29). Portanto pode-se afirmar que toda tensão ontológica é importante a fim de que o ser exista com autenticidade no homem.
É sempre bom refletir os passos de nossa existência!
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