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Foto do escritorRomeo Ernesto Riegel | Crônica

Mulheres de bombacha

Acervo da Academia Gramadense de Letras e Artes

Pedro Raimundo foi o primeiro divulgador da tradição gaúcha, precedendo até Barbosa Lessa e Paixão Cortes. Para tanto usou a música de galpão, característica do Rio Grande, e foi aplaudido pelo Brasil inteiro como «O gaúcho Alegre do Rádio». Sua composição mais famosa, festejada até por Getúlio Vargas, evocava uma personagem chamada Mariana. Na canção, ela usava bota, bombacha e espora e o marido teve que disparar dela para não tomar uma tunda de cabo de relho. Hoje, a Mariana seria considerada uma tremenda sapatona.



Houve época em que seria inconcebível uma mulher cavalgar com uma perna em cada lado do cavalo. Lembrando-se do ar principesco das senhoritas de então passeando sobre selins, postos em reluzentes cavalos marchadores, e imaginá-las sentadas sobre pelegos trajando-se como a Mariana de Pedro Raimundo, seria a mesma coisa que pensar em peões desfilando de bombacha e tênis. Mas aqueles eram dias em que havia tempo para tudo, até para encantar-se por coisas tão simples.



A substituição quase generalizada do vestido rodado e delicados sapatos por bombacha e botas entre as amazonas atuais, originou grande pendenga entre os tradicionalistas mais literais. Porém, os vestidos ainda imperam nos salões, misturados com o perfume delas.



Pensam as mulheres, que se a comodidade da bombacha serve aos homens pode também servir às que gostam de andar a cavalo, atividade repleta de delicadeza e romantismo, quando patrocinada pela sensibilidade feminina. E a variação do selim e do vestido para basto e bombacha, foi a salvação das grandes cavalgadas que diminuíram de grossura, desde que as mulheres apareceram junto empunhando a bandeira do Rio Grande do Sul. E quando, ao almoço, são servidas de arroz carreteiro preparado pelos homens, o acampamento adquire ares de nobreza e sensualidade.



Parece que foi oportuna a adaptação referida, porque as mulheres voltaram a integrar passeios a cavalo pelo interior de nossa Gramado, coisa que não se via há muitas décadas. E olhando elas passarem, ninguém se lembra da Mariana, muito antes pelo contrário. A vontade mesmo que dá, é de pedir uma carona.

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