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Colunista l pe.arisilva@hotmail.com

A salvação pela perseverança

(Lc 21,5-19)

33º Domingo do Tempo Comum

Os discípulos de Jesus foram alertados contra os falsos alarmes de chegada do fim do mundo. O resultado disto era medo, a insegurança e, de modo especial, sentir-se bloqueado e desmotivado para fazer o bem. É perda de tempo dar ouvidos a quem se considera entendido nas coisas relativas ao fim do mundo, e quer se fazer de mestre dos outros.

As perseguições e dificuldades devem ser vistas pelos discípulos como ocasião para dar testemunho do Reino, sem a ilusão de que tudo acabará em breve. Por causa do nome de Jesus, eles seriam aprisionados, entregues às sinagogas judaicas, e levados diante de reis e governadores. Entre seus traidores estariam os seus próprios familiares e amigos. Seriam odiados, e muitos haveriam de sofrer morte violenta.

Em todas estas circunstâncias trágicas, os discípulos teriam a possibilidade de experimentar a proteção divina. Do Pai receberiam força para se defenderem diante dos tribunais, rebatendo as falsas acusações e testemunhando o nome de Jesus com denodo. E também, a força necessária par não se intimidarem e nem sucumbirem às investidas dos adversários.

Se forem capazes de perseverar, até o fim, no testemunho de Jesus, serão salvos. Desta forma, ficará patente sua adesão radical ao Reino e sua não compactuação com o mal e o pecado. Quem perseverar, experimentará a misericórdia salvífica do Pai.

 

Para tempos difíceis:

As profundas mudanças socioculturais que estão acontecendo e nossos dias e a crise religiosa que sacode as raízes do cristianismo no Ocidente nos devem urgir mais do que nunca em buscar Jesus a luz e a força de que precisamos para ler e viver estes tempos de maneira lúcida e responsável.

 

Não à ingenuidade: Em momentos de crise, desconcerto e confusão não é estranho ouvir mensagens e revelações propondo caminhos novos de salvação. Estas são as instruções de Jesus. Em primeiro lugar: que “ninguém vos em engane”: não cair na ingenuidade de dar crédito a mensagens alheias ao Evangelho nem foram nem dentro da Igreja. Em segundo lugar, “não sigais”: não seguir os que nos separam de Jesus Cristo, único fundamento e origem de fé.

 

Concentrar-se no essencial:

Cada geração cristã tem seus próprios problemas, dificuldades e buscas. Não devemos perder a calma, mas assumir nossa responsabilidade. Não se nos pede nada que esteja acima de nossas forças. Contamos com a ajuda do próprio Jesus: “Eu vos darei palavras e sabedoria”. Inclusive num ambiente de rejeição ou desafeto podemos praticar o Evangelho e viver com sensatez cristã.

 

A hora do testemunho:

Os tempos difíceis não devem ser tempo para as lamentações, a nostalgia ou o desânimo. Não é hora de resignação, da passividade ou da omissão. A ideia de Jesus é outra: em tempos difíceis “tereis ocasião de dar testemunho”. É precisamente agora que precisamos reavivar entre nós o chamado a ser testemunhas humildes, mas convincentes, de Jesus, de usa mensagem e de projeto.

 

Paciência:

É esta exortação de Jesus para momentos árduos: ”Por vossa perseverança salvareis vossas vidas”. O termo original pode ser traduzido indistintamente como “paciência” ou perseverança”. Entre nós cristãos falamos pouco da paciência, mas precisamos dela mais do que nunca. É o momento de cultivar um estilo de vida cristã paciente e tenaz, que nos ajuda a responder a novos desafios sem perder a paz nem a lucidez.

 

Não demonizar a crise:

Como viver estes tempos de “crise religiosa” com lucidez e responsabilidade, sem desviar-nos do Evangelho e sem submergir no desespero? Esta é, talvez, uma das perguntas mais inquietantes que brotam em nós que cremos em Jesus. É claro que a fé cristã não pode ser vivida nem transmitida a partir de atitudes negativas. É um erro alimentar e vitimismo, viver da nostalgia ou acumular ressentimento. Tudo isso nos afasta do espírito com que Jesus vivia. É o momento de aprender a viver estes tempos de maneira mais positiva, confiante e evangélica.

O apelo de Jesus a “perseverar” deve nos levar a pensar. É um erro “demonizar” a crise atual, vivendo-a como uma situação impossível. Deus não está em crise. Ele continua atuando em cada ser humano. Nenhuma crise pode impedir que o Criador continue oferecendo-se, comunicando-se e salvando seus e filhos e filhas por caminhos a nós desconhecidos.

O importante é perseverar: não desviar do Evangelho; buscar sempre o reino de Deus e sua justiça, não nossos pequenos interesses; atuar a partir do espírito de Jesus, não de nosso instinto de conservação; buscar o bem de todos e não só o nosso. Não nos enganemos: quem realmente pensa na felicidade de todos é Deus, não somos nós.

“Perseverar” não é repetir de maneira vazia palavras que já não dizem nada, mas inflamar nossa fé em contato direto e pessoal com Cristo. “Perseverar” não é colocar-nos na defensiva diante de qualquer mudança, mas manter a capacidade de escutar a ação de Deus em nossos dias. “Perseverar” não é exigir de outros, mas viver nós mesmos em contínua conversão.

 

Não perder a paciência:

Quase não se fala da paciência em nossos dias e, no entanto, poucas vezes ela terá sido tão necessária como nestes momentos de grave crise generalizada, incerteza e frustração. São muitos os que vivem hoje ao relento e, ao não poder encontrar amparo em nada que lhes ofereça sentido, segurança e esperança, caem no desânimo na crispação ou na depressão.

A paciência da qual se fala no evangelho não é uma virtude própria de homens fortes e aguerridos. É antes a atitude serena de quem crê num Deus paciente e forte que alenta e conduz a história, às vezes tão incompreensível para nós, com ternura e amor compassivo. A pessoa animada por esta paciência não se deixa perturbar pelas tribulações e crises dos tempos. Mantém o ânimo sereno e confiante. Segredo é a paciência fiel de Deus, que apesar, de tanta injustiça absurda e tanta contradição, continua sua obra até cumprir suas promessas.

A pessoa paciente, não se irrita nem se deixa deprimir pela tristeza. Contempla a vida com respeito e até com simpatia. Deixa os outros serem, não antecipa o juízo de Deus, não pretende impor sua própria justiça. Nem por isso cai na apatia, no ceticismo ou na desistência. A pessoa paciente luta e combate dia a dia, precisamente porque vive animada pela esperança. “Se nos afadigamos e lutamos é porque temos esperança no Deus vivo”. (1Tm 4,10). A paciência do crente está arraigada no Deus “amigo da vida”. Apesar das injustiças em nosso caminho e dos golpes que a vida nos dá, apesar de tanto sofrimento absurdo ou inútil. Deus continua sua obra. Nele nós, os crentes, pormos nossa esperança.

 

Façamos nossa oração:

Espírito de constância, vem em meu socorro nos momentos de provação e dificuldade, quando a perseverança se torna difícil, e a fidelidade, um desafio. Amém

Padre Ari Antonio da Silva

Colunista l pe.arisilva@hotmail.com

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