As geadas e os novos tempos
Quando aparece alguma geada, calam-se os pássaros, a grama amarelece e deixa de crescer, as roças viram tristes campos de espera, os animais se encolhem e os seres humanos batem queixo. Porém, o romantismo desses tempos cada vez mais empalidece, abrindo novos panoramas físicos e culturais no Rio Grande do Sul.
Mas mudanças climáticas demonstrando que a geada e a neve não esfriarão as orelhas de quase mais ninguém, originam certo tempo de saudade. Igualmente estão terminando os pitorescos dias com frio, cerração e chuvisqueiro, tão ao gosto de quem visita as paragens serranas do Rio Grande do Sul. Eles se destacam pela vistosa roupa invernal que usam mais para mostrar aos amigos que estiveram passeando pelos campos de Cima da Serra, do que para se proteger de alguma esperada friagem.
Enquanto isso, outros conterrâneos, que estavam acostumados a campeirar escutando o ruído do gelo quebrado pelas patas de seus cavalos, se consolam porque as contradições de São Pedro não conseguiram tirar o brilho nem suprimir as emoções da entusiasmada ressurreição de formas de vida que se apuram na busca pela primavera.
Assim, a despeito de alguma nostalgia e inconveniências comerciais, o enfraquecimento da geada contém sensível regozijo. Quando o Sol de inverno faz com que apenas um teimoso orvalho vire fumacinha que sai pelo nariz da terra, os seres vivos pouco fumaceiam também e a seiva das plantas se põe em tímido movimento. Os gigantes das matarias criam forças para lançar, todos ao mesmo tempo, milhões de folhas e botões, testemunhando o vigor de um quadro natural seguindo seu secular e sacrossanto costume de mudar. Vendo o exemplo, arbustos de jardins e beiras de estradas florescem alegremente, desempenhando, com orgulho e perfume, o papel que lhes cabe nessa jornada.
As praias são arrimos do mar, tanto quanto os serranos o foram da geada. O mar continua o mesmo, mas a geada o clima oferece em conta gotas, com a clara intenção de desafiar a criatividade dos responsáveis por consagrados destinos turísticos rio-grandenses E estende o desafio ao ímpeto corajoso e contemporâneo de empresários que não esperam ser satélites do que lhes trazem os turistas, mas sim, dos bens que a terra oferece como prêmio a seu esforço.
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