A intrepidez do discípulo
12º Domingo do Tempo Comum
(Mt 10,26-36)
Uma das virtudes que se requer do discípulo de Jesus é a intrepidez, de modo especial quando se trata de dar testemunho público de sua fé, no exercício apostólico recebido do Mestre. Sem ela, tenderá a capitular diante da primeira dificuldade. Por isso, Jesus exorta os seus seguidores a serem valorosos nas tribulações, mostrando-se intrépidos, mormente, diante dos adversários e perseguidores. As provações não haveria de abater as pessoas simples e receptivas. Os perseguidores sim deixar-se-iam tomar pelo ódio, ao ver os discípulos proclamarem, com toda a coragem as palavras do Mestre. Porque o Evangelho do Reino, proclamado “em cima de telhados”, de maneira pública e sem meias palavras, poria a descoberto as mazelas desses adversários, constituindo-se numa verdadeira denúncia de sua injustiça e maldade.
Obviamente, a reação deles seria tentar eliminar quem os denunciava. Caso o discípulo fosse fraco e temeroso, ou não abriria a boca ou pôr-se-ia em fuga diante da menor ameaça, nua evidente infidelidade à missão recebida.
A coragem do discípulo brota de sua confiança na proteção divina. O Pai é o Senhor da vida do discípulo. Ele abate a prepotência dos perseguidores. Basta ao discípulo ser fiel à missão recebida, e entregar-se, confiante, nas mãos de Deus. Assim, sua vitória estará garantida.
Libertar nossas comunidades do medo:
As fontes cristãs apresentam Jesus dedicado a libertar as pessoas do medo. Ele se afligia ao ver as pessoas aterrorizadas pelo pode de Roma, intimidadas pelas ameaças dos mestres da Lei, distanciadas de Deus pelo medo se sua ira, culpabilizadas por sua pouca fidelidade à Ele. Do coração cheio de Deus, só podia brotar um desejo: “Não tenhais medo” São palavras de Jesus que se repetem sempre de novo nos evangelhos. As que mais deveriam também repetir-se hoje em sua Igreja.
O medo se apodera de nós quando em nosso coração cresce a desconfiança, a insegurança ou a falta de liberdade interior. Este medo é problema central do ser humano e só podemos nos libertar dele enraizando nossa vida em um Deus que só busca o nosso bem.
Assim o via Jesus. Por isso dedicou-se, antes de tudo, a despertar a confiança no coração das pessoas. Sua fé profunda e simples era contagiosa: se Deus cuida com tanta ternura dos pardais do campo, os pequeninos pássaros da Galileia, coo não vai cuidar de vós? Um cristão de primeira geração recolheu bem sua mensagem. ”Descarregai um Deus tudo que vos abate ou oprime, pois a Ele só interessa o vosso bem”.
Com que força falava Jesus a cada enfermo: “Tem fé. Deus não esqueceu de ti” Com que alegria os despedia quando podia vê-los curados: “Vai em paz. Vive bem”. Seu grande desejo era que as pessoas vivessem em paz, sem medos nem angústias: “Não vos julgueis, nem vos condeneis mutuamente, não vos causeis dano. Vivei de maneira amistosa”.
São muitos os medos que fazem as pessoas sofrer em segredo. O medo causa dano. Onde cresce o medo, perde-se Deus de vista e se afoga a bondade que há no coração das pessoas. A vida se apaga, a alegria desaparece.
Olhar o futuro sem perder a paz:
Em todas as épocas sempre apareceram os “profetas agoureiros” ou vaticinadores de desgraças, prontos para anunciar todo tipo de males para o futuro. Também hoje aparecem aqui ou ali pessoas pouco equilibradas que profetizam catástrofes e outros desastres, talvez porque elas mesmas vivem como um fracasso e projetam sobre o mundo seus próprios desejos de destruição.
Esses falsos profetas podem arruinar a alma frágil de alguns, mas não são os mais perigosos. Maior dano ainda causam aqueles que constantemente destilam seu pessimismo, envenenando a vida cotidiana com seus prognósticos pessimistas. O cristão não se ilude sobre a situação do mundo. Não se engana resolvendo os problemas a partir de uma fé ingênua. Conhece a força do mal, mas sua fé em Deus o ajuda a não esquecer que o mundo não está abandonado à sua desgraça. Além das manchetes da imprensa e das estatísticas, o crente vê a realidade em sua profundidade última que é a salvação que vem de Deus.
Não ao medo:
Não é pecar por dramatismo constatar que cresce entre nós o medo social e a insegurança. A vida está cada vez mais difícil ou, pelo menos, assim percebe muita gente que se sente ameaçada de muitas maneiras e não vê claro seu futuro. Este medo social é um tanto difuso, mas real. É a impressão imperceptível de que as instituições sociais, políticas e econômicas existentes não são capazes de resolver os problemas atuais.
Este medo nem sempre se manifesta da mesma maneira, nem tem os mesmos efeitos em todos. Existem aqueles que sentem necessidade de consumir mais, para se sentirem mais seguros, e lançar-se numa vida de divertimento que lhes permita esquecer os problemas de cada dia.
Outros caem na passividade, na resignação e no desencanto, pois, se sentem dominados por uma sensação de impotência ao ter poucas oportunidades de protagonismo numa sociedade tão completa e tão submissa ao interesse dos privilegiados.
Também não faltam os que, acovardados diante do rismo de uma maior liberdade social, desejam voltar a situações mais ditatoriais e anseiam por um Estado forte, defensor de uma ordem rígida e segura, com o risco de construir uma sociedade menos livre e mais inumana.
A superação do medo não é só nem principalmente uma questão de boa vontade. O ser humano precisa encontrar uma esperança definitiva e uma força que dê sentido à sua luta diária. Precisa descobrir uma razão para viver, uma confiança para morrer.
A fé é, talvez, antes de tudo, força contra todo medo e coragem para continuar crendo no futuro do ser humano, a partir de um compromisso humilde e a partir de uma confiança ilimitada no Pai de todos. A isso nos convida permanentemente o apelo de Jesus: “Não tenhais medo”!
Façamos nossa oração:
Querido Pai do céu, dá-nos intrepidez bastante para que possamos dar testemunho de teu Reino, sem nos intimidar diante das ameaças e da violência dos adversários. Amém
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