Os contrastes de um herói

Provavelmente, o político mais ingênuo da história do Brasil foi Tiradentes. Ele tinha a simplicidade dos fanfarrões de boteco e o idealismo patriótico dos amadores honestos.

O amadorismo da Inconfidência de Tiradentes deve ter provocado ataque de riso em seu conterrâneo Tancredo Neves, um dos mais ladinos e bem-sucedidos políticos que o Brasil conheceu. Tiradentes não corria atrás de votos, nem de vantagens pessoais e, muito menos, era caçador de manchetes. Percorria Minas Gerais fazendo discursos em bares, bordéis e festas de igreja ou não. E, considerando como acabou sua peregrinação, parece que, na época, nunca alguém lhe deu muita atenção.

Mas, para os dirigentes portugueses, esta simplicidade mostrava que Tiradentes era um desordeiro indefeso, perfeito para ser explorado como exemplo. Levaram-no para o Rio de Janeiro e lá montaram o trágico teatro que conhecemos. Mas quando, muito mais tarde, governantes brasileiros precisaram de um herói para valorizar e fortificar nossa brasilidade, compreenderam o significado da façanha do modesto alferes que, então, renasceu coberto de louros.

Só que nosso herói da independência deixou, sem querer, uma mensagem para os aspirantes a lugares na história. A ingenuidade que lhe custou uma morte humilhante foi o caminho para sua eternidade política. Na verdade, Tiradentes é um dos raros nomes que acompanha a história do Brasil de queixo levantado, esculpido em imortal dignidade E, de certo, em algum galpão do céu, deve até ter aprendido a tomar chimarrão com Sepé Tiarajú, seu irmão de sonho e de destino.

Além disso, por conta daquilo em que acreditava, Tiradentes ofereceu o pescoço ao cadafalso, meio sem saber o tamanho da enrascada em que tinha se metido. Mas, embora sendo um ativista atrapalhado, nos comove até hoje pela singeleza de seu límpido patriotismo.

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