Nossas paisagens assim como as pessoas refletem não só a beleza natural mas fundamentalmente quem colocou a moldura .
Nossas paisagens assim como as pessoas refletem não só a beleza natural mas fundamentalmente quem colocou a moldura
Esse encantamento devemos a sujeitos, pessoas que proporcionaram, num passado distante, serviços, alguns desconhecidos e outros “abafados” pelo tempo.
Waldomiro Wiltgen conheceu Adelina Benetti Wiltgen quando passava pela Linha 28 com sua “trilhadeira”, equipamento rústico que transformava grãos em farinha. Casaram em 24 de maio de 1958. Waldomiro foi um homem inquieto, teve várias profissões no decorrer de sua vida visando melhorar as condições de vida de sua família formada pela esposa, cinco filhos, seu pai e um irmão portador de uma doença crônica. Trabalhou no corte de matas e a lenha era vendida nas casas e restaurantes de uma cidade que crescia vertiginosamente. Waldomiro trabalhou como agricultor, plantando e colhendo milho, trigo, arroz, feijão, cevada, batata, aipim, amendoim, uvas e frutas. Comprava carvão e verduras dos agricultores das redondezas, e saía para fazer “quitanda”, de casa em casa com seu caminhão pela a cidade e bairros de Gramado. Porém, foi exercendo a profissão de “leiteiro”, que lhe confere a distinção.
Waldomiro Wiltgen nas lides com seu caminhão. Data incerta.
O que era um leiteiro? Pergunte ao mais jovem de sua família e verás que resposta virá. O Leiteiro era o sujeito que passava por um trajeto pré determinado e recolhia os tambos de leite deixados ao longo da estrada pelos colonos. O destino final era a Corlac, localizada nas imediações onde hoje é a estação rodoviária de Gramado. Uma curiosidade desta relação. Waldomiro recebia mensalmente o pagamento e da mesma forma pagava aos agricultores. Também, com seu caminhão, participava do vai e vem das famílias que não possuíam qualquer meio de tração mecânica para ir e vir da cidade. Levava enfermos para o hospital e os servia com remédios comprados na farmácia “dos Bezzi”, localizada na Av. Borges de Medeiros esquina com a Av. das Hortênsias (Banco Santander), ou na farmácia “do seu Beno”, localizada na Av. Borges de Medeiros esquina com a rua Salgado Filho, onde hoje há uma sequência de lojas.
Era um “UBER”. Gestantes, crianças pequenas e enfermos sentavam na cabine, na parte traseira do caminhão, amigos e familiares eram conduzidos, aos domingos, à missa ou a algum festejo nas proximidades. Foi desta forma que os moradores das colônias do Carahá, Quilombo e Linha 28, não só supriram suas necessidades mais urgentes como marcaram seus dias num ir e vir civilizatório.
Mais tarde, deixa esta atividade e quem assume a entrega do leite na Corlac, é Alcides e Carlos Sorgetz, pai e filho, conhecidos entre si, residentes na Linha Quilombo. […] Anos depois, Waldomiro constrói sua residência e passa a residir na localidade de Várzea Grande, onde está localizado o Pórtico de entrada da cidade, a RS 115 (que leva o nome de José Francisco Perini). O bairro é imponente pelo seu crescente desenvolvimento. Com o passar dos tempos Waldomiro vende seu caminhão, deixa suas atividades e investe numa “caçamba” impelido pela construção, nos anos 70, da RS 115, que ligaria Taquara a Gramado.
Casal Adelina e Waldomiro Wiltgem. Data incerta. Adelina, na data deste artigo conta com 96 anos.
É neste tabuleiro que Waldomiro e família, estabelecem suas marcas sendo a Linha 28 o palco do primeiro encontro. Este episódio reflete a importância da tradição oral, muitas vezes abandonada, esquecida ou ainda deixada de lado por mero capricho. Relatos assim, são o alimento, o “maná” da Micro História. Inegavelmente essas pequenas contribuições que a revista Gramado Magazine oferece aos seus leitores é uma das formas de conhecer o município do outro lado do balcão.
Fica aqui um agradecimento especial à Sra. Adelina Benetti Wiltgen, nonagenária, cuja segurança do que foi escrito tem como lastro a sua memória. A Juçara Maria Benetti Wiltgen, sempre disposta a contribuir, meu reconhecimento e amizade. Fotos cedidas pela família.
Casagrande
- Depoimento – A editora da gramadomagagzine.com.br, Maristela Bordin Tomazeli (Tela Tomazeli), foi uma das passageiras do sistema. Enquanto passava os dias com seus avós Pedro e Olga Bordin, que moravam ali na Linha 28, vinha ‘para Gramado’ sentada em cima dos tarros do leite. Acordavam de madrugada e caminhavam ‘um eito’ para chegar ao ponto de coleta, segurando a mão do nono. Às vezes, quando muito frio, se não estivesse ocupado, vinha sentada na frente. Ao chegar em Gramado desciam na Corlac e seguiam para a Associação Rural onde o nono com seu bornal fazia as compras e ela ganhava um guaraná.
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