skip to Main Content

Colunista l casagrandegilneiricardo@gmail.com

Formação dos Redutos Coloniais nas Terras de Gramado.

Por volta de 1880, segundo levantamentos, João Manoel Correa contrata os agrimensores José Rath e Henrique Wasem para mapear as terras onde hoje estão os municípios de Gramado e Canela que tinham sua dependência politica a Taquara do Mundo Novo. Em 19 de abril de 1904 Gramado é reconhecido como 5º Distrito com sede na Linha Nova. Paralelo a estas ações políticas, havia um grande incentivo do governo estadual que as terras fossem povoadas, facilitando aos colonos a forma do pagamento. Essa foi a regra geral que incentivou as primeiras gerações de italianos radicados na região de Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Farroupilha comprassem terras fora daquele eixo.

Segundo a tradição oral familiar, Francisco Perini acompanhado de seu tio Cylio Perini, chega a Linha 28 em maio de 1910. “[…] era fim da tarde, dizia ele, e o tempo estava para chover, havia muito vento e não dava para voltar. Bati na porta e veio um homem. Dei meu nome e pedi abrigo para passar a noite” […] sou Augusto Bordim, podem entrar. Foi ali que Francisco conheceu Angelina, uma moça baixinha, […] voltei para Forqueta e contei para meus pais que iria comprar um pedaço de terras no 28 […] mas a família era grande e não tinha dinheiro. Foi aí que me disseram que o governo pagava por dia trabalhado na abertura de estradas (hoje a BR 116), e ajudava na compra de terras. […] Fui duas vezes no escritório do governo em Caxias e me deram um monte de papel para ler, mas eu não sabia ler, mal sabia escrever meu nome. […] peguei os papéis e fui na Igreja e falei com um padre que leu para mim. […] uns vinte dias depois saí de casa ainda de madrugada num cavalo emprestado rumo a Gramado e aqui encontrei o Pedro Benetti que tinha uma casa de comércio. Entrei e mostrei os cinco salames que a minha mãe me deu para comer. Vendi quatro […] Mostrei os papeis que tinha […] ele me ajudou muito”.
Ele tinha 16 anos.

 

Vista Parcial da Linha 28. Foto do acervo sob minha curadoria.

 

O cotidiano dos colonos estava baseado em três pilares. O primeiro era a espiritualidade como energia para os tempos difíceis e, para agradecer mesmo que as dificuldades os rondassem. O segundo, as estações do ano que ditavam o que podia ser plantado e o que estava na hora de colher. E, o terceiro era a sustento da família, a roça. O inicio da vida das famílias primitivas da localidade recebiam como presente de casamento, galinhas, leitões, bezerros, sementes de hortaliças assim como mudas chás para todos os tipos de doenças e sacos com milho. Os parcos utensílios domésticos não passavam de pratos fundos normalmente esmaltados, algumas canecas também esmaltadas e alguns talheres. Os utensílios maiores eram de madeira falquejadas que viravam bacias. Os baldes eram feitos por tanoeiros. Para os italianos, a panela “padella” da polenta era uma necessidade vital e pelo menos uma “cattiola”, também de ferro, que o dialeto rebatizou como caçarola. Um detalhe. A panela ou “brondim” (menor), foi presente de casamento de Olynda Dalle Molle a Irma Perini Zanatta.

 

Caçarola, Panela de Polenta e “Brondin – foto do acervo sob minha curadoria.

 

Os casamentos normalmente eram feitos pela manhã, onde os convidados almoçavam e partiam no meio tarde, porém não sem antes tomarem café com bolachas especialmente feitas para as bodas.

 

Casamento de Adelina Benetti Wiltgen e Waldomiro Wiltgen – Fotografia do acervo de Jussara Wiltgen Tissot.

 

As casas eram de madeira assentadas sobre uma muralha de pedras com travessões de araucária falquejadas. As construções invariavelmente obedeciam o declive do terreno. O porão, no inicio, servia para abrigar os animais domésticos em especial no rigor do inverno onde o estrume por conter vários ácidos “ajudava a esquentar a casa”. A cozinha era um anexo da casa, pois caso houvesse um incêndio salvaria o restante. As janelas dos quartos eram sempre voltadas para o sol nascente que era “um santo remédio”. A madeira vinham das serrarias proximas e eram pagas “conforme o resultado da safra”.

 

Casa que abrigou a família de Francisco Perini, hoje Borgo28gramado que autorizou a publicação da fotografia..

 

A primeira geração das famílias radicadas na Linha 28 foi formada, na sua grande maioria constitui-se de mulheres. Preparar esta jovem para o casamento não era fácil pois a produção primária ficava no limite da subsistência. Logo, o empenho era de todos, sem exceção. O enxoval era artesanal. O algodão (em metro ou sacos de mantimentos), se transformavam em lençóis, fronhas e capas de cobertas que eram levados ao “quarador”, ou seja, lançados sobre uma grama limpa para receber o sol. As agulhas de tricô e crochê assim como a rudimentar máquina de costura eram protegidas com zelo. A lã das ovelhas a plumagem dos gansos e galinhas mais as palhas de milho tinham cuidados especiais, pois virariam travesseiros, acolchoados e colchões cuja palha era “afofada” diariamente. – Dormi sobre eles na minha primeira infância.

 

Toalhas – Acervo sob minha curadoria.

 

A história oral de cada família invariavelmente está na memória de seus descendentes e esta responsabilidade não pode ser transferida na medida em que o tempo é inclemente em todos os aspectos.

 

“A responsabilidade pelo conteúdo é única e exclusiva do autor que assina a presente matéria”.

Essa matéria tem 0 comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *


The reCAPTCHA verification period has expired. Please reload the page.

Back To Top

You cannot copy content of this page