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Colunista l pe.arisilva@hotmail.com

Apelo à conversão

(Mt 4,12-32)

3º Domingo do Tempo Comum

Ao deixar Nazaré onde fora criado e vivera por longos anos, Jesus escolheu como base de sua pregação a cidade de Cafarnaum, às margens do lago da Galileia. Ele poderia ter-se dirigido a Jerusalém, na Judeia, a Cidade Santa do judaísmo. Todavia, a escolha da Galileia como ponto de partida de sua pregação foi intencional, devido ao simbolismo ligado àquela região.

No passado, os habitantes do norte de Israel foram vitimados por tropas estrangeiras, que invadiram o território judeu. Além disso, para impor sua dominação, trocaram a população local por outra, trazida do exterior. Daí em diante, apelidou-se de “Galileia dos pagãos” o território  ocupado por populações não judaicas, tendo abatido sobre elas, desde então, um grande desprezo.

O texto de Isaías, citado no Evangelho, tem como pano de fundo este fato. Falando do futuro, o profeta diz que o país mergulhado nas trevas haveria de contemplar uma grande luz. Um passado de humilhação daria lugar a um futuro glorioso, com a chegada do Messias que poria fim à história tenebrosa do norte de Israel.

Jesus escolheu começar a concluir seu ministério entre os pagãos, os marginalizados e as vítimas de preconceitos. À Judeia, onde se pensava viverem os judeus fieis o Mestre foi apenas para morrer. Depois de ressuscitar, ele retornou à Galileia para enviar os apóstolos por todo o mundo, a fim de pregar o Evangelho do Reino.

 

A primeira palavra de Jesus:

O Evangelista Mateus cuida muito do cenário em que Jesus vai fazer sua aparição pública. Apaga-se a voz do Batista e começa-se a escutar a nova voz de Jesus. Desaparece a paisagem seca e sombria do deserto e ocupa o centro o verdor e a beleza da Galileia. Jesus abandona Nazaré e se desloca para Cafarnaum à margem do lado. Tudo sugere o aparecimento de uma vida nova. Mateus lembra que estamos na “Galileia dos pagãos”. Já sabe que Jesus pregou nas sinagogas daquelas aldeias e não se moveu entre os pagãos. Mas a Galileia é encruzilhada de caminhos. Cafarnaum, uma cidade aberta ao mar. Daqui chegará a salvação para todos os povos.

Naquele momento, a situação é trágica. Inspirando-se num texto do Profeta Isaías, Mateus vê que “o povo está nas trevas “. Sobre a terra “há escuridão de morte”. Reina a injustiça e o mal. A vida não pode crescer. As coisas não são como Deus quer. Aqui não reina o Pai. Mas, no meio das trevas, o povo vai começar a ver “uma grande luz”. Entre a escuridão de morte “começa a brilhar uma luz”. Jesus é sempre isso: uma grande luz que brilha no mundo.

Segundo Mateus, Jesus começa sua pregação com um apelo: “Convertei-vos”. Esta é sua primeira palavra. É a hora da conversão, hora de abrir-se ao Reino de Deus. Não ficar sentados nas trevas, mas caminhar na luz. Dentro da Igreja há uma grande “luz”. É Jesus. Nele Deus se revela a nós. Não devemos ocultá-lo com nosso protagonismo. Não devemos suplantá-lo com nada. Não devemos convertê-lo em doutrina teoria, em teologia fria ou em palavra enfadonha. Se a luz de Jesus se apaga, nós cristãos nos converteremos no que tanto temia Jesus: “em cegos que guiam outros cegos”.

Por isso também hoje é essa a primeira palavra que devemos escutar. “Convertei-vos”. Recuperai vossa identidade cristã; voltai a vossas raízes, ajudai à Igreja a passar a uma nova etapa do cristianismo mais fiel a Jesus e vivei com nova consciência de seguidores; colocai-vos a serviço do Reino de Deus.

 

Em que devemos mudar?

  1. Na compaixão. É sempre o princípio de atuação. É preciso introduzir compaixão no mundo para com os que sofrem: “Sede compassivos como vosso Pai”. Não bastam belas palavras que falam de justiça, igualdade ou democracia. Sem compaixão para com os últimos não somos nada. Sem ajuda prática aos desgraçados desta terra não há progresso humano.
  2. A dignidade dos últimos deve ser a primeira meta. “Os últimos serão os primeiros”. É preciso imprimir na história uma nova direção. É preciso direcionar a cultura, a economia, as democracias e as igrejas tendo em vista os que não podem viver de maneira digna.
  3. Deve ser impulsionado um processo de cura que liberte a humanidade do que a destrói e degrada: “Ide e curai”. Jesus não encontrou uma linguagem melhor. O decisivo é curar, aliviar o sofrimento, sanar a vida, construir uma convivência orientada para uma vida sadia, digna e feliz para todos. Uma vida alcançará sua plenitude no encontro definitivo com Deus.

Esta é a herança de Jesus. Nunca, em parte alguma se construirá a vida tal como Deus a quer, se não for libertando os últimos de sua humilhação e sofrimento. Nunca será abençoada por Deus uma religião, seja qual for, se ela não buscar justiça para eles.

Se a fé consiste em seguir a Jesus, todos devemos perguntar-nos sinceramente a quem seguimos em nossa vida, a que mensagens prestamos ouvidos, a que líderes aderimos, que causas defendemos e a que interesses obedecemos, ao mesmo tempo em que pretendemos ser cristãos, isto é, “seguidores” de Jesus Cristo.

 

Façamos nossa oração:

Querido Pai, faze-nos compreender que os pobres e os marginalizados  são os destinatários privilegiados do Evangelho do Reino; para eles tua luz deve brilhar em primeiro lugar. Amém

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