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Colunista l pe.arisilva@hotmail.com

Testemunha do Filho de Deus

(Jo 1,29-34)

2ª Semana do Tempo Comum

O Batista, no evangelho de João, revela uma dupla atitude em relação a Jesus. Num primeiro momento, recusa-se a ser identificado com o Messias, Elias ou como profeta. Suas palavras eram sem ambiguidade. Ele era taxativo quando se tratava de auto identificar-se. Seria desonesto passar uma falsa imagem de si mesmo. Limitava-se a apontar, vagamente, para o Messias, servindo-se da metáfora do servo que desamarra as sandálias do seu senhor. O Messias vindouro era de uma dignidade tal que se reconhecia indigno até de prestar-lhe este serviço. Entretanto, ao se deparar com Jesus, João afirmou sem titubear: “Eis o Cordeiro de Deus, o que tira o pecado do mundo! E mais: “Eu o vi e dou testemunho de que este é o Filho de Deus”.

A proclamação de João estava carregada de evocações relativas ao êxodo. Ao chamar Jesus de “cordeiro”, identificava-o com os cordeiros imolados no Egito, cujo sangue serviu para ungir os umbrais das casas dos israelitas, de modo a preservá-los da fúria do anjo exterminador. A função de “tirar o pecado do mundo” tem a ver com a libertação da escravidão e da morte, como se dera com o antigo povo de Israel. O Messias Jesus estava para realizar uma nova páscoa. Sua missão consistia em libertar cada ser humano da opressão do pecado, para introduzi-lo na terra da fraternidade Por conseguinte, sua presença devia ser motivo de alegria, como a do povo no Egito, no momento em que estava para ser libertado.

 

O primeiro:

Alguns ambientes cristão do primeiro século tiveram muito interesse em não serem confundidos com os seguidores do Batista. Segundo eles, a diferença era abissal. Os “batistas” viviam de um rito externo que não transformavam as pessoas: um batismo de água. Os “cristãos”, ao contrário, se deixavam transformar internamente pelo Espírito de Jesus. Esquecer isto é fatal para a Igreja. O movimento de Jesus não se sustenta com doutrinas, normas ou ritos vividos a partir do exterior. É o próprio Jesus quem há de “batizar” ou impregnar seus seguidores co seu Espírito. E é esse espírito que há de animá-los, impulsioná-los. Sem este “batismo do Espírito” não há cristianismo. Não devemos esquecer que a fé que existe na Igreja não está nos documentos do magistério nem nos livros dos teólogos. A única fé real é a que o Espírito de Jesus desperta nos corações e nas mentes de seus seguidores. Esses cristãos simples e honestos, de intuição evangélica e coração compassivo, são os que de verdade “reproduzem” Jesus e introduzem seu Espírito no mundo. Eles são o melhor que temos na Igreja.

Infelizmente, há muitos outros que não conhecem por experiência essa força do Espírito de Jesus. Vivem uma “religião de segunda mão”. Não conhecem nem amam a Jesus. Simplesmente creem no que os outros dizem. Sua fé consiste em crer no que diz a Igreja, no que ensina a hierarquia ou no que escrevem os entendidos, ainda que eles não experimentem em seu coração nada do que Jesus viveu. Como é natural, com o passar dos anos sua adesão ao cristianismo vai se dissolvendo.

O que nós cristãos precisamos hoje em primeiro lugar não são catecismos que definem corretamente a doutrina cristã, nem exortações que precisem com rigor as normas morais. Só com isso não se transformam as pessoas. Há algo prévio e mais decisivo: narrar nas comunidades a figura de Jesus, ajudar os fiéis a colocar-se em contato direto com o Evangelho, ensinar a conhecer e amar a Jesus, aprender juntos a viver seu modo de vida e seu espírito. Recuperar o “Batismo do Espírito”, não é essa a primeira tarefa na Igreja? Portanto, para saborear e degustar a Deus, não basta teorizar sobre Ele. É necessário beber do Espírito.

 

Amar a vida:

As pessoas não gostam de ouvir falar de espiritualidade, porque não sabe o que esta palavra encerra: ignoram que significa mais do que religiosidade, e que não se identifica com o que tradicionalmente se entende por piedade. “Espiritualidade” quer dizer viver uma relação vital com o Espírito de Deus, e isto só é possível quando se experimenta Deus como “fonte de vida” em cada experiência humana.

Segundo o teólogo Jürgen Moltmann devemos viver em contato com o Espírito de Deus “não leva a uma espiritualidade que prescinde dos sentidos, voltada para dentro, inimiga do corpo, afastada do mundo, mas a uma nova vitalidade do amor à vida”. Diante do que está morto, do petrificado ou do insensível, o Espírito desperta sempre amor a vida. desperta a morte”, afirmar a vida apesar da fraqueza, do medo, da doença ou da culpa. Quem vive aberto ao Espírito de Deus vibra com tudo que faz crescer a vida e se rebela contra o que lhe causa dano e a mata.

Este amor à vida gera uma alegria diferente, ensina a viver de maneira amistosa e aberta, em paz com todos, dando-nos a vida mais digna e feliz. A esta energia vital que o Espírito infunde na pessoa, Jürgen Moltmann se atreve a chamar de “energia erotizante”, pois faz viver de maneira prazerosa, atrativa e sedutora. Esta experiência espiritual dilata o coração: começamos a sentir que nossas expectativas e anseios mais profundos se mesclam com as promessas de Deus; nossa vida finita e limitada se abre para o infinito. Então descobriremos também que “santificar a vida” não é moralizá-la, mas vive-la a partir do Espírito Santo, isto é, vê-la e amá-la como Deus e vê e a ama: boa, digna e bela, aberta à felicidade eterna.

Esta é, segundo o Batista, a grande missão de Cristo: “batizar-nos com Espírito Santo”, ensinando-nos a viver em contato com o Espírito. Só isto pode libertar-nos de uma maneira triste e raquítica de entender e viver a fé em Deus.

 

Façamos nossa oração:

Pai, tu enviaste Jesus com a missão de nos introduzir no Reino da fraternidade. Dá-nos a graça de reconhecê-lo e nos fazer seguidor dele. Amém.

 

“A responsabilidade pelo conteúdo é única e exclusiva do autor que assina a presente matéria”.

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