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Colunista l pe.arisilva@hotmail.com

A piedade correta

Lc 18,99-14)

30º Domingo do Tempo Comum

A parábola do fariseu e do publicano aponta dois diferentes tipos de piedade, representando posições extremas. O discípulo do Reino deve decidir-se pela maneira correta de agradar a Deus, evitando os caminhos enganosos.

A piedade farisaica, baseada na prática cotidiana da Lei, em seus mínimos detalhes, tinha seus defeitos: era cheia de orgulho, uma vez que levava a pessoa a olhar com desprezo para os considerados pecadores incapazes de perfeição; pregava a segregação das outras pessoas, por temor de contaminação. Os fariseus julgavam-se com direito de exigir de Deus salvação, em vista dos méritos adquiridos com sua vida piedosa.

A piedade do povo simples e desprezado, como o cobrador de impostos, tem outros fundamentos: a humildade e a consciência das próprias limitações e da necessidade de Deus salvá-lo, a certeza de que a salvação resulta da misericórdia divina, sem méritos humanos, o espírito solidário com os demais pecadores que esperam a manifestação da bondade de Deus.

A oração do fariseu prepotente e egoísta dificilmente atendida. É uma oração formal, da boca para fora. Já a oração do publicano é totalmente humilde, porque ele reconhece que sua salvação vem de Deus. Só a oração sem estardalhaço é ouvida!

 

Refugiar-se na compaixão de Deus:

De acordo com Lucas, Jesus dirige a parábola do fariseu e o publicano a alguns que se presumem justos diante de Deus e desprezam os outros. Os dois protagonistas que sobem ao templo para orar representam duas atitudes religiosas contrapostas e irreconciliáveis. Mas, qual é a postura certada diante de Deus? É esta a pergunta de fundo.

O fariseu é um observante escrupuloso da Lei e um praticante fiel de sua religião. Sente-se seguro no templo. Ora de pé e com a cabeça erguida. Sua oração é a mais bela: uma oração de louvor e ação de graças a Deus. Mas não lhe dá graças por sua grandeza, por sua bondade ou misericórdia, e sim pelo que há de bom e grande nele próprio.

Imediatamente, observa-se algo falso nessa oração. Mais que orar, este, homem está se contemplando a si mesmo. Conta sua própria história cheia de méritos. Ele precisa sentir-se bem diante de Deus e exibir-se como superior aos outros. Este homem não sabe o que é orar. Não reconhece a grandeza misteriosa de Deus nem confessa sua própria pequenez. Buscar a Deus para enumerar diante dele nossas boas obras e desprezar os outros é coisa de imbecis. Por trás de sua aparente piedade esconde-se uma atitude “ateia”. Este homem não precisa de Deus. Não lhe pede nada. Basta-se a si mesmo.

Por outro lado, a oração do publicano é muito diferente. Ele sabe que sua presença no templo é mal vista por todos. Seu ofício de cobrador de impostos é odiado e desprezado. Ele não se recusa. Reconhece que é pecador. O bater no peito e as poucas palavras que sussurra dizem tudo. “Ó Deus tem compaixão deste pecador”. Este homem sabe que não pode vangloriar-se. Não tem nada a oferecer a Deus, mas sim muito a receber dele: seu perdão e sua misericórdia. Em sua oração há autenticidade. Este homem é pecador, mas está no caminho da verdade.

Os dois sobem ao templo para orar, mas cada um traz em seu coração sua imagem de Deus e seu modo de relacionar-se com Ele. O fariseu continua enredado numa religião legalista: para ele o importante é estar em ordem com Deus e ser mais observante do que todos. O cobrador, pelo contrário, abre-se ao Deus do Amor que Jesus prega: aprendeu a viver do perdão, sem vangloriar-se de nada e sem condenar ninguém.

 

Precisamos reagir:  

A sociedade moderna tem tal poder sobre seus membros que acaba submetendo quase todos. Absorve as pessoas mediante ocupações, projetos e expectativas, mas não para elevá-las a uma vida mais nobre e digna. Em geral, o estilo de vida imposto pela sociedade afasta os indivíduos do essencial impedindo não poucos de chegarem a ser eles mesmos.

O resultado é deplorável. As pessoas vão se tornando cada vez mais indiferentes ao que é “importante” na vida. Quase não interessam as grandes questões da existência. São muitos os que vivem sem certezas nem convicções profundas, carregadas de banalidades, interessados por muitas coisas, mas sem “núcleo interior”. Facilmente então a fé pode ir se apagando lentamente no coração de não poucos.

Talvez seja este um de nossos grandes erros. Preocupamo-nos com mil coisas e não sabemos cuidar do importante: o amor, a alegria interior, a esperança, a paz da consciência. A mesma coisa ocorre com a fé: não sabemos estima-la, cuidar dela, alimentá-la. Pouco a pouco a fé vai se apagando. Como reagir? A primeira coisa é “tomar distância” e atrever-nos a olhar de frente nossa vida com suas rotinas, seu frágil equilíbrio e sua mediocridade. Escutar o surdo rumor de necessidades insatisfeitas e desejos contraditórios. Um certo distanciamento permite adquirir uma nova perspectiva das coisas para abordar nossa vida com mais verdade.

Em que temos que acertar para viver melhor e mais sadia nossa vida? Cuidar do “excesso de exterioridade”. Devemos reagir e tomar decisões conscientes. Somos muitas vezes medíocres e fracos. Olhemos a atitude do publicano e digamos com ele: “Ó Deus, tem compaixão de nós pecadores”.

Devemos sempre nos lembrar: “Deus, que modelou o coração humano, entende e escuta a nossa oração, quando sincera”.

 

Façamos nossa oração:

Espírito de humildade na oração, ensina-nos a rezar, pondo nossa confiança totalmente em Deus, pois só sua misericórdia pode nos salvar. Amém.

 

“A responsabilidade pelo conteúdo é única e exclusiva do autor que assina a presente matéria”.

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