Santificada pelo amor
(Lc 1,39-56)
Assunção de Nossa Senhora
A assunção de Maria ao céu deve ser entendida no contexto da totalidade de sua vida. Sem este enraizamento histórico, correr-se-á o risco de diviniza-la, a ponto de esquecer que o desfecho de sua vida está em perfeita sintonia com a sua caminhada terrena. E mais: deve ser entendida como o reconhecimento divino de sua plena adesão ao desígnio que Deus tem reservado para cada ser humano. Maria soube viver com radicalidade este projeto.
Refletindo sobre a visita de Maria a Isabel, é possível detectar o elemento centralizador de sua existência: o amor entranhado pelo próximo, caminho de santificação.
Ao saber da gravidez da prima Isabel, Maria pôs-se, apressadamente, a caminho. Sem medir esforços nem se intimidar-se pelos eventuais perigos que poderia encontrar ao longo do caminho, ela se sentiu no dever de colocar-se a serviço da parenta. Assim, durante três meses, a “humilde serva de Isabel”. O serviço à prima era uma forma de desdobramento do serviço a Deus. Ou então, o serviço a Deus concretizava-se no serviço à sua parenta.
Este testemunho de amor gratuito e generoso não constituiu um fato isolado na vida de Maria. Ela se dispôs a servir a Isabel, e sempre este disponível para servir também a quantos dela precisassem. Por isso, mereceu ser acolhida na plenitude do amor de Deus.
Crer é outra coisa:
Estamos vivendo uns tempos em que, cada vez mais, o único modo de poder crer verdadeiramente será, para muitos, aprender a crer de outra maneira. Já John Henry Newman advertia que uma fé passiva, herdada e não repensada terminaria, entre as pessoas cultas, em “indiferença” e, entre as pessoas simples, em “superstição”. Portanto, é bom recordar alguns aspectos essenciais da fé.
A fé é sempre uma experiência pessoal. Não basta crer naquilo que outros nos pregam a respeito de Deus. Definitivamente, cada um só crê naquilo que ele crê verdadeiramente no fundo de seu coração diante de Deus, não naquilo que ouve os outros dizerem. Para crer em Deus é necessário passar de uma fé passiva, infantil, herdada, para uma fé mais responsável e pessoal. Esta é a primeira pergunta: creio em Deus ou naqueles que falam dele? Na fé nem tudo é igual. É preciso saber distinguir entre o que é essencial e o que é acessório, e, depois de vinte séculos, existe muito de acessório em nosso cristianismo.
A fé daquele que confia em Deus está para além das palavras, das discussões teológicas e das normas eclesiásticas. O que define o cristão não é o ser virtuoso ou observante, mas o viver confiando num Deus próximo pelo qual a pessoa se sente amada incondicionalmente. Esta pode ser a segunda pergunta: confio em Deus ou fico aprisionado em outras questões secundárias?
Na fé, o importante não é afirmar que se crê em Deus, mas saber em que Deus se crê. Nada é mais decisivo do que a ideia que cada um se faz de Deus. Se creio num Deus que é amor e perdão, viverei amando e perdoando. Esta pode ser a pergunta em que Deus eu creio: num Deus que corresponde às minhas ambições e interesses ou no Deus vivo revelado em Jesus?
A fé, por outro lado, não é uma espécie de “capital” que recebemos no batismo e do qual podemos dispor para o resto da vida. A fé é uma atitude viva que nos mantém atentos a Deus, abertos cada dia ao seu mistério de proximidade e amor a cada ser humano.
Maria é o melhor modelo desta fé viva e confiante. É a mulher que sabe ouvir a Deus no fundo do seu coração e vive aberta a seus desígnios de salvação. Sua prima Isabel a elogia com estas palavras memoráveis, “Feliz és tu, que creste! Feliz também tu, se aprenderes a crer. É a melhor coisa que te pode acontecer na vida.
Façamos nossa oração:
Espírito de amor gratuito e generoso, coloca-nos no mesmo caminho de santificação trilhado por Maria, colocando-nos sempre a serviço de quem carece de nossa ajuda. Amém.
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