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Colunista l pe.arisilva@hotmail.com

Somos convidados a permanecermos sempre de prontidão

(Lc 12,32-48)

19º Domingo do Tempo Comum

A longa espera do Senhor poderia ter como efeito, no coração do discípulo, a lassidão. E, com ela, o risco de agir em total desconformidade com o projeto do Reino. Daí a importância da exortação de Jesus.

A maneira conveniente de esperar o Senhor consiste em desapegar-se dos bens deste mundo, buscando apenas o tesouro inesgotável no céu, que está a salvo da ação dos ladrões e das traças. A maneira prática de desfazer-se das coisas desnecessárias, às quais o coração se apega, resume-se em vendê-las e dá-las aos pobres.

O Evangelho alerta para o risco da posse avarenta de bens. Agindo assim, o discípulo desloca o centro de seus interesses do Reino para os bens materiais. E, com isso, torna-se despreparado para o encontro com o Senhor. Seu coração não estará no Reino, e sim nos bens acumulados. É atitude insensata de quem desconhece a hora em que virá o Senhor.

O discípulo que permanece de prontidão predispõe-se para encontrar o Senhor, qualquer que seja a hora em que ele chegue. Quem age assim, é chamado de “bem-aventurado”, pois experimentará a alegria de ser acolhido pelo Senhor que vem. Por conseguinte, nada de se deixar seduzir pelas riquezas, a ponto de esquecer desse encontro com ele.

 

Cuidado com o dinheiro:

Jesus tinha uma visão muito lúcida sobre o dinheiro. Resume-se numa frase: “Não se pode servir a Deus e ao dinheiro”. Esse Deus que busca com paixão uma vida mais digna e justa para os pobres não pode reinar em quem vive dominado pelo dinheiro. Jesus com sua vida e com sua palavra, esforça-se para ensinar aos ricos da Galileia e aos camponeses pobres das aldeias qual a maneira mais humana de “entesourar”.

Na verdade, nem todos podiam conseguir um tesouro. Só os ricos de Séforis e Tiberíades podiam acumular moedas de ouro e prata. Esse tesouro era chamado de “mamona”, ou seja, dinheiro que “está seguro” ou que “dá segurança”. Nas aldeias não circulavam essas moedas de bronze ou cobre, mas a maioria vivia trocando entre si produtos ou serviços num regime de pura subsistência.

Jesus explica que há duas maneiras de “entesourar”. Alguns procuram acumular cada vez mais mammonas; não pensam nos necessitados; não dão esmola a ninguém: sua única obsessão é acumular cada vez mais. Há outra maneira de ‘entesourar”, bem diferente. Não consiste em acumular moedas, mas em compartilhar os bens com os pobres para “fazer para si um tesouro no céu”, ou seja, diante de Deus. Só este tesouro é seguro e permanece intacto no coração de Deus.

Os tesouros da terra, por mais que os mais que chamemos de mamona, são caducos, não dão segurança e estão sempre ameaçados. Por isso, Jesus lança u grito de alerta. Cuidado com o dinheiro, porque ‘onde está o vosso coração, ali estará vosso coração. O dinheiro atrai nosso coração e nos seduz porque dá poder, segurança, honra e bem-estar: viveremos escravizados pelo desejo de ter sempre mais.

Pelo contrário, se ajudarmos os necessitados, iremos nos enriquecendo diante de Deus e o Pai dos pobres nos irá atraindo para uma vida mais solidária. Mesmo no meio de uma sociedade que tem seu coração fixo no dinheiro, é possível viver de maneira austera e compartilhada.

 

Não viver dormindo:

Um dos riscos que nos ameaçam hoje é cair numa vida superficial, mecânica, rotineira e massificada…Não é fácil escapar. Com o passar dos anos, os projetos, as metas e ideais de muita gente acabam apagando-se. Não poucos acabam levantando-se cada dia só para “ir levando a vida”. Onde encontrar um princípio humanizador, desalienante, capaz de libertarmos da superficialidade, da massificação, do aturdimento ou do vazio interior? É surpreendente a insistência com que Jesus fala da vigilância. Ele entende a fé como uma atitude vigilante que nos liberta do absurdo que domina muitos homens e mulheres, que andam pela vida sem meta nem objetivo algum.

O apelo de Jesus à vigilância nos chama a despertar da indiferença, da passividade ou do descuido com que vivemos frequentemente nossa fé. A fé é luz que inspira nossos critérios de atuação, força que impulsiona nosso compromisso de construir uma sociedade mais humana, esperança que anima todo o nosso viver diário.

 

O que eu busco?

Numa conferência de Teilhar de Chardin, pronunciada em Beijing em dezembro de 1943 sobre o tema da felicidade, este eminente cientista e pensador distinguiu 3 posturas diferentes diante da vida. 1. Em primeiro lugar estão os pessimistas. Para este grupo de pessoas, a vida é algo perigoso e mau. O importante é fugir dos problemas, saber e defender-se. Chardin diz que esta atitude, levada ao extremo, conduz ao ceticismo oriental ou ao pessimismo existencialista. Mas, de forma atenuada, aparece em muitas pessoas: “para que viver?”, “para que buscar”? Tudo dá no mesmo!

Em segundo lugar vêm os folgazões: só se preocupam em desfrutar cada momento e cada experiência. Seu ideal consiste em organizar a vida da forma mais prazerosa possível. Esta atitude leva ao hedonismo. A vida é prazer; caso contrário, não é vida.

Em terceiro lugar vêm os ardentes. São pessoas que entendem a vida como crescimento constante. Buscam sempre algo mais, algo melhor. Para eles, a vida inesgotável: um descobrimento no qual sempre é possível avançar. A estas três atitudes diferentes diante da vida, segundo Teilhard Chardin são formas diferentes diante da vida de entender e buscar a felicidade. Ora, os pessimistas entendem a felicidade como tranquilidade, os folgazões como prazer e os ardentes como crescimento.

De acordo com Chardin um “…homem feliz é aquele que, sem buscar diretamente a felicidade, encontra a alegria, como acréscimo, no próprio fato de ir caminhando para sua juventude, para sua realização e para frente”. Não devemos esquecer a sábia advertência de Jesus: “Onde está o vosso tesouro, ali estará vosso coração”. As palavras de Jesus são também um chamado a viver com lucidez e responsabilidade, sem cair na passividade ou na letargia. Na história da Igreja há momentos em que cai a noite. No entanto, não é a hora de apagar as luzes e deitar-nos para dormir. É a hora de reagir, despertar nossa fé e continuar caminhando para o futuro, inclusive numa Igreja velha e cansada.

Precisamos valorizar, cultivar e agradecer muito o despertar de uma nova consciência em muitos leigos e leigas que vivem hoje sua adesão a Jesus e sua pertença à Igreja de um modo lúcido e responsável. Essas pessoas podem ser hoje o fermento de paróquias e comunidades renovadas em torno do seguimento fiel de Jesus. São o maior potencial do cristianismo. Precisamos deles mais do que nunca para construir uma Igreja aberta aos problemas do mundo atual e próxima dos homens e mulheres de hoje.

 

Façamos nossa oração:

Espírito de prontidão, que nós estejamos em contínuo alerta, à espera do Senhor que vem, libertando nosso coração do apego exagerado aos bens deste mundo. Amém

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