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Tela Tomazeli l Editora

O que podemos fazer?

(Lc 3,10-18)

3º Domingo do Tempo do Advento

            João Batista empenhou-se, de corpo e alma, na tarefa de preparar o povo para a chegada do Messias. Sua pregação, baseada no apelo à conversão, confrontava os ouvintes com exigências concretas de mudança de vida. Sabia indicar, para cada um, o que devia fazer para concretizar o desejo de ser julgado digno do Messias vindouro.

            Aos ricos, apegados aos seus bens, João exortava a partilhar desde a roupa até o alimento. O apego aos bens materiais afasta o coração humano do Messias, porque o afasta dos pobres e excluídos, para os quais o Reino de Deus tem um sentido particular.

            Dos cobradores de impostos exigia que não se deixassem corromper pelo dinheiro, explorando os outros, para se enriquecerem. A obsessão pelo dinheiro é um empecilho para quem pretende estar em dia com Deus.

            Os soldados eram alertados para não se deixarem levar pela tentação da violência ou da extorsão, abuso detestável para com os seus semelhantes. Ambas as atitudes revelam um coração sem misericórdia, indigno do Messias que vem. Logo, é preciso, com urgência, abandonar práticas deste gênero.

            Assim, quem se aproximava de João podia estar certo de receber uma tarefa precisa que tocava no seu ponto fraco. O desafio consistia em dar ouvidos a este apelo!

Que devemos fazer?

            João Batista proclamava em voz alta o que muitos sentiam naquele momento: é preciso mudar, não se pode continuar assim, é necessário voltar a Deus. De acordo com o evangelista Lucas, alguns se sentiram questionados pela pregação do Batista e se aproximaram dele com uma pergunta decisiva: o que podemos fazer?

            Por mais apelos de caráter político ou religioso que se ouçam numa sociedade, as coisas só começam a mudar quando há pessoas que se atrevem a confrontar-se com sua própria verdade, disposta a transformar sua vida. João Batista tem as ideias muito claras. Não convida as pessoas a ir ao deserto para viver uma vida ascética de penitência, como ele. Tampouco as anima a peregrinar a Jerusalém para receber o Messias no templo. A melhor maneira de preparar o caminho para Deus é simplesmente, trabalhar para uma sociedade mais solidária e fraterna, menos injusta e violenta.

            Por outro lado, João Batista não fala às vítimas, mas aos responsáveis por aquele estado de coisas. Dirige-se aos que têm “duas túnicas” e podem comer; aos que enriquecem de maneira injusta à custa de outros; aos que abusam de seu poder e de sua força. São muitas as mentiras que se ouve no dia a dia de nossa sociedade

Repartir com quem não tem

            A palavra de João Batista tocou no coração das pessoas. Curiosamente o Batista não lhes propõe ritos sagrados, nem normas, nem preceitos. A primeira coisa a fazer não é cumprir melhor os deveres religiosos, mas viver de forma mais humana, reavivar algo que já está em nosso coração: o desejo de uma vida mais justa, digna e fraterna.

            O que podemos dizer diante destas palavras, nós que habitamos num mundo onde mais de um terço da humanidade vive na miséria, lutando cada dia pra sobreviver, enquanto muitos continuam enchendo os armários com todo tipo de túnicas, geladeiras abarrotadas de alimentos. E o que podemos dizer dos seguidores de Jesus diante deste apelo tão simples e tão humano? Será que não devemos começar por abrir os olhos de nosso coração para tomar consciência de que vivemos submetidos s um bem-estar que nos impede de sermos mais humanos?

            O grande teólogo Johann Baptista Metz dizia: “…nós cristãos não nos damos conta de vivemos em muitas ocasiões “cativos de uma religião burguesa”. Ora, o cristianismo, tal como, muitos de nós o praticamos, não tem força para transformar a sociedade do bem-estar. Pelo contrário, é ela que esta esvaziando nosso seguimento de Jesus de valores tão genuínos como a solidariedade, a defesa dos pobres, a compaixão ou a justiça. Em contrapartida, precisamos também agradecer o esforço de tantas pessoas que se rebelam contra esse “cativeiro” comprometendo-se em gestos concretos de solidariedade e cultivando um estilo de vida mais simples, austero e humano. Elas nos recordam o caminho que é preciso seguir. As palavras simples do Batista nos obrigam a pensar que a raiz das injustiças está também em nós. As estruturas refletem demasiadamente bem o espírito que anima quase todos nós. Reproduzem com fidelidade a ambição, o egoísmo e a sede de possuir que existem em cada um de nós.

            O amor é a energia que dá verdadeira vida à sociedade. O pensador norte americano Herbert Marcuse afirmava: Vive-se no hoje da vida “…a eutanásia da liberdade”, pois há um número cada vez maior de pessoas que vivem uma não liberdade “confortável, cômoda, razoável, democrática”. Vive-se bem, mas sem conhecer a verdadeira liberdade nem o amor. Por quê? Nesta mesma sociedade proclamam-se em alta voz os direitos das pessoas, mas depois os indivíduos são sacrificados ao lucro, à utilidade ou ao desenvolvimento do bem-estar.

            A verdade é que se trata de um amor funcionalista. Nessa sociedade da eficácia o importante não são as pessoas, mas função que elas exercem. O indivíduo facilmente é reduzido a uma peça da engrenagem: no trabalho é um empregado, no consumo é um cliente, na política é um voto, no hospital é um número de cama. Nesta sociedade, as coisas funcionam; as relações entre as pessoas morrem. O que devemos fazer?

            Não continuar desenvolvendo sem limites nosso bem-estar, esquecendo os que morrem de fome. O verdadeiro progresso não consiste em que uma minoria alcance um bem-estar material cada vez maior, mas em que a humanidade inteira viva com mais dignidade e menos sofrimento.

Façamos nossa oração:

Espírito que converte para Deus, que nós permaneçamos atentos aos apelos de conversão que nos são dirigidos, para assim, merecermos sr acolhidos no Reino proclamado pelo Messias Jesus. Amém

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